Olimpíadas Na Área | Ana Marcela Cunha, esperança de mais uma medalha para o Brasil

A delegação brasileira chega com muita expectativa e confiança para disputar novamente os Jogos Olímpicos, desta vez em Paris. Esta edição conta com mais de 270 atletas divididos em 39 modalidades, sendo um evento histórico antes mesmo de começar, pois a maioria da delegação é composta por mulheres, algo inédito. E uma dessas atletas, em especial, tem uma história de grandes feitos e momentos de superação.

Desde cedo, Ana Marcela Cunha já dava seus primeiros passos, ou melhor, suas primeiras braçadas, rumo a um sonho que se tornaria realidade. Reconhecida nacional e internacionalmente, a atleta é um dos grandes nomes da história da natação brasileira, mais precisamente na maratona aquática, que ganhou a medalha de ouro em Tóquio 2020. Sua modalidade é relativamente recente no quadro de esportes do Comitê Olímpico Internacional (COI), mas vem rendendo grandes resultados para o Brasil.

Em 1908, as provas deixaram de acontecer no mar e passaram a ser realizadas em piscinas nas competições organizadas pela World Aquatics (WA), a Federação Internacional de Esportes Aquáticos. Décadas depois, em 1991, a WA voltou a organizar a maratona aquática, com provas de 25km. A partir de 2001, passaram a ser realizadas também no percurso de 10km. As disputas ocorrem em rios, lagos ou, com mais frequência, nos mares, onde os atletas devem completar o trajeto até a placa de chegada. Em Paris, a competição acontecerá no Rio Sena.

Com isso, após algumas edições dos mundiais da modalidade, a maratona aquática foi introduzida pelo COI nos Jogos Olímpicos de Pequim. Na ocasião, Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto representaram o Brasil na categoria feminina, terminando a prova em 5º e 7º lugares, respectivamente, enquanto de Allan do Carmo, na masculina, que terminou em 14º lugar.

História da nadadora

Ana Marcela Cunha no Pan-Pacífico de Tóquio, 2018. Foto: Satiro Sodré/SSPress

A vida de qualquer atleta de alto rendimento está imersa em treinos intensos, rotinas extremamente regradas e comprometimento com seu trabalho. Mas há algo que os diferencia, mesmo em níveis tão altos, como os competidores de campeonatos mundiais e, claro, de Jogos Olímpicos. Há uma origem, uma semente que indica que o futuro reserva feitos grandiosos. Esse é o caso de Ana Marcela Cunha.

Ana é filha de atletas: seu pai, George, era ginasta, e sua mãe, Ana Patrícia, nadadora. Logo nos primeiros anos de vida, eles já notavam que os caminhos da filha estavam ligados ao litoral. George disse que ela podia “sentir o cheiro do mar”. Baiana de Salvador, Ana Marcela começou a treinar no Clube Olímpico de Natação aos 8 anos de idade.

Aos 10 anos, mostrou grande potencial ao derrotar duas atletas campeãs sul-americanas, e foi ali que os prognósticos começaram a se tornar realidade. Ela alçou voos maiores com a ajuda do então supervisor da seleção brasileira de maratonas aquáticas, Igor de Souza, que organizou um evento no Rio de Janeiro e ficou impressionado com a garra e a determinação da jovem durante a maratona.

Com isso, ela entrou de vez para o time de atletas da seleção brasileira. Dali em diante, sua carreira decolou. Ana Marcela colecionou medalhas em mundiais de águas abertas desde então. Entre essas medalhas, há uma especial: o título de campeã mundial da maratona aquática em 2011, que a sagrou como a primeira mulher brasileira a conseguir esse feito. Sua estreia em Olimpíadas foi em Pequim 2008, com um elogiado 5º lugar, mas seus desempenhos nas duas edições seguintes não foram como o esperado. Porém, ela seguia em busca da medalha.

Ana Marcela Cunha tem muitos grandes momentos em sua carreira, mas também alguns grandes desafios; e um deles foi além do esporte. Após as Olimpíadas do Rio, ela descobriu uma doença autoimune que prejudicava o processo de coagulação do sangue, obrigando-a a passar por uma cirurgia para remover o baço.

Já recuperada, ela fez novamente um ciclo olímpico muito forte e conseguiu outras cinco medalhas em mundiais, além de um ouro no Pan-Americano de Lima, no Peru. No entanto, seu grande feito ainda estava por vir. Dois anos depois, nas Olimpíadas de Tóquio, ela conquistou o tão sonhado ouro olímpico em uma disputa acirrada até os últimos instantes.

A esperança de mais um ouro

Ana Marcela Cunha. Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

De fato, Ana Marcela é uma grande expoente do esporte olímpico nacional, e sua carreira fala por si só. Mas ela não para por aí. Este ano, a nadadora chega a Paris como a favorita para ganhar novamente a medalha de ouro na maratona aquática.

Ana estará novamente sob os olhares esperançosos dos brasileiros, que a veem como um símbolo de superação e comprometimento, como ocorreu no último ciclo. Sua preparação para Paris 2024 foi marcada por altos e baixos, mas ela chega em alta para disputar da sua quinta edição dos Jogos Olímpicos.

Este ano, Ana Marcela já faturou a etapa da Itália da Copa do Mundo, disputada em maio, na qual enfrentou suas principais concorrentes. A nadadora chega à capital francesa de forma imponente e proporciona grande esperança aos brasileiros de ser medalhista pela segunda vez nos Jogos Olímpicos. Ela tem tudo para escrever mais uma página em sua linda história no esporte nacional.

Assim, George, seu pai, que antes dizia que a filha era sensível ao cheiro litorâneo, hoje poderia afirmar que a relação dela com o mar é muito maior do que uma intelecção sensorial; é uma relação de alma. E de muito empenho, com certeza. Ana Marcela Cunha nasceu para nadar em águas abertas e, principalmente, para trazer orgulho ao seu país.