Brasil se tornou o país do vôlei de praia nas últimas edições das Olimpíadas com um total de 14 medalhas.
Por: Maysa Casemiro, Igor Bispo e Marcos Rocha
Nas Olimpíadas de Paris 2024, a dupla Duda e Ana Patrícia conquistam a segunda medalha de ouro da história do vôlei de praia feminino no Brasil. Agora, o Brasil aumenta a distância como o país com mais medalhas desta modalidade nas olimpíadas, totalizando 14.
Além das meninas de ouro, as duplas que representaram o Brasil foram: Carol Solberg e Bárbara Seixas; André Stein e George Wanderley; Evandro Oliveira e Arthur Lanci. Conheça a trajetória de cada uma até conquistar uma vaga para disputar o sonho sonho olímpico:
Ana Patrícia e Duda Lisboa
A dupla feminina, formada por Ana Patrícia e Duda Lisboa, manteve uma campanha impecável nas Olimpíadas de Paris, chegando à final invictas e conquistando a medalha de ouro. Elas enfrentaram a dupla canadense composta por Melissa Humana-Paredes e Brandie Wilkerson em uma partida emocionante realizada sob a Torre Eiffel. O jogo foi extremamente disputado e o Brasil venceu por 2 sets a 1, garantindo o primeiro ouro para o país no vôlei de praia feminino desde 1996 (Jaqueline Silva e Sandra Pires.)
Ambas com 28 anos, as atletas são bem altas: Duda, que é de Sergipe, tem 1,80m, e a mineira Ana Patrícia 1,94m. Duda já jogava com 9 anos e é filha de uma ex-atleta de vôlei de praia, Clarice Lisboa. Ana Patrícia passou pelo futebol, handebol e vôlei de quadra antes de ir para a amada modalidade de areia.
Nossa dupla de ouro já havia jogado junto no passado, elas levaram o ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude Nanjing 2014, além de ganharem duas edições do Campeonato Mundial Sub-21.
Nas Olimpíadas de Tóquio (2020) as meninas também jogaram pelo Brasil, mas em equipes diferentes: Patrícia competiu com Rebecca e alcançou as quartas de final, enquanto Duda parou nas oitavas ao lado de Ágatha. Em suas carreiras individuais, elas conquistaram grandes feitos, sobretudo Duda, que já havia sido duas vezes campeã do circuito mundial.
Foi em 2022 que esse reencontro aconteceu, unindo forças as atletas começaram um novo ciclo, já conquistando o Campeonato Mundial 2022, onde ficaram com a prata nas finais do circuito mundial. Em 2023, levaram a prata no Mundial e o bronze nas finais do circuito, além do ouro nos Jogos Pan-Americanos. Nos últimos dois anos, o reinado no circuito mundial é absoluto: são 13 medalhas em etapas do Elite 16, incluindo oito ouros – o mais recente faturado em Brasília. No Elite 16 de Ostrava, que fechou o ranking, as brasileiras ficaram na quarta posição.
Atualmente, além de campeãs olímpicas, elas também lideram o Ranking Mundial da modalidade no feminino.
Carol Solberg e Bárbara Seixas
A dupla Carol Solberg e Bárbara Seixas, ambas de 36 anos, são uma das mais experientes do vôlei de praia do Brasil e já jogaram juntas em 2003 e 2004, com direito a duas medalhas de prata no Mundial Infanto-Juvenil. Carol estreou nos Jogos Olímpicos esse ano, já Barbára possui medalha de prata nas Olimpíadas do Rio (2016) quando formou dupla com Ághata. Infelizmente na Paris 2024, elas foram eliminadas nas oitavas de final, por dois sets a zero, para as australianas Clancy e Mariafe, as atuais vice-campeãs olímpicas. Atualmente elas ocupam o 5° lugar no Ranking Mundial.
André Stein e George Wanderley
A dupla masculina brasileira formada por André Stein, de 30 anos, e George Wanderley, de 27 anos, estrearam pela primeira vez (individualmente e juntos) nos Jogos Olímpicos. A dupla que tem uma trajetória brilhante, está no 4° lugar do Ranking Mundial, mas infelizmente ficaram fora do pódio olímpico após uma campanha dura nas fases eliminatórias, resultando em dois sets a zero para a Alemanha.
Evandro Oliveira e Arthur Lanci
Evandro Oliveira, de 24 anos, disputou nas Olimpíadas pela terceira vez e já havia conquistado medalha de prata em Tóquio 2020 (com Bruno Schmidt). Já Arthur Lanci, 28 anos, fez sua primeira participação em uma Olímpiada, após uma bela carreira em competições de base e no circuito mundial. Infelizmente, com a eliminação da dupla Evandro e Arthur nas quartas de final, por dois sets a zero para a Suécia, o vôlei de praia masculino registrou duas Olimpíadas sem chegar ao pódio, uma marca negativa inédita na tão vitoriosa história do Brasil na modalidade. A dupla ocupa atualmente a 8° posição no Ranking Mundial.
Afinal, por que o Ranking Mundial é tão importante?
O Ranking Mundial é atualizado continuamente e contabiliza os pontos que as duplas obtêm nos torneios do Circuito Mundial. Diferente do Ranking Olímpico, ele considera um período maior e não se restringe apenas aos torneios qualificatórios para os Jogos Olímpicos. Além disso, ficar ou não no pódio dos Jogos Olímpicos não interfere na pontuação desse ranking. As informações sobre a colocação das duplas foram verificadas no dia 27 de agosto de 2024.
A história da profissionalização do vôlei de praia no Brasil
A história da profissionalização do vôlei de praia no Brasil tem dois grandes protagonistas: Nuzman e o Banco do Brasil.
Carlos Arthur Nuzman nasceu em 1942 e teve uma carreira vitoriosa no vôlei (de quadra), chegando a representar a amarelinha nos jogos olímpicos de Tóquio em 64. Após a sua aposentadoria, Nuzman se tornou presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) entre os anos de 1975 e 1995. Durante seu mandato, a entidade assumiu o controle da organização do vôlei de praia do país em 1986, criando, 3 anos depois, um departamento exclusivo para tratar do esporte. Arthur também teve grande importância no processo de criação do Circuito Mundial de Vôlei de praia e na inclusão da modalidade nas Olimpíadas a partir dos jogos de Atlanta em 1996.
Já o Banco do Brasil entrou em cena a partir do ano de 1991. No processo de recuperação de uma crise no banco, a instituição achou no vôlei de praia, um esporte na época de grande apelo ao público jovem, uma oportunidade de expandir o número de clientes. Através do investimento sólido na modalidade, foi possível criar uma estrutura consolidada nacionalmente pelo Circuito Nacional de vôlei de Praia, com um calendário que permitia os atletas disputarem as competições internacionais.
Histórico do Brasil nos Jogos Olímpicos
Graças ao grande profissionalismo por trás da organização do esporte no país, o Brasil é o país com mais medalhas neste esporte, sendo 14 ao total, somando 4 ouros, 7 pratas e 3 bronzes. O Brasil também é o segundo país mais bem sucedido nas Olimpíadas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos que possui 11 medalhas na modalidade, sendo 7 de ouro. Com exceção das Olimpíadas de Tóquio em 2021, a bandeira brasileira esteve presente em todos os pódios.
Edição | Medalhas de ouro | Medalhas de prata | Medalhas de Bronze |
---|---|---|---|
Atlanta 1996 | Jacqueline Silva e Sandra Pires | Mônica Rodrigues e Adriana Samuel | Nenhuma |
Sidney 2000 | Nenhuma | Adriana Behar e Shelda Bedê / José Marco Melo e Ricardo Santos | Adriana Samuel e Sandra Pires |
Atenas 2004 | Ricardo Santos e Emanuel Rego | Adriana Behar e Shelda Bedê | Nenhuma |
Pequim 2008 | Nenhuma | Márcio Araújo e Fábio Luiz Magalhães | Ricardo Santos e Emanuel Rego |
Londres 2012 | Nenhuma | Alison Cerutti e Manuel Rego | Juliana Silva e Larissa França |
Rio 2016 | Alison Cerutti e Bruno Schmidt | Ághata Bednarczuc e Bárbara Seixas | Nenhuma |
Tóquio 2021 | Nenhuma | Nenhuma | Nenhuma |
Paris 2024 | Ana Patrícia Ramos e Duda Lisboa | Nenhuma | Nenhuma |
Diferenças entre o volêi de praia e o de quadra
Quando se trata de esportes de areia, logo vem à mente que eles são jogos adaptados para praia, mas que mantêm as mesmas regras. Porém não é só o local que muda, há também regras, equipamentos, técnicas e nomes especiais e diferentes para essas modalidades. O treinador de volêi de praia, Leonardo Marquez, conta quais as principais diferenças:
“Uma das principais diferenças é o tamanho da quadra, onde o vôlei de praia tem um espaço de jogo de 16X8 metros enquanto o vôlei de quadra tem 18X9 metros. Para além da perceptível diferença no tipo de solo e no número de atletas que atuam na modalidade, sendo na praia 2 ou 4 atletas e na quadra são 6 ou 7 se contarmos com o líbero. Para além disso algumas diferenças nas regras são bem claras, na praia por exemplo, quando se joga de 2 pessoas o bloqueio já considerado o primeiro dos três toques permitidos pela regra para que a equipe lance a bola para o lado adversário, enquanto na quadra o bloqueio não é considerado como um desses 3 toques.”
Como as duplas se classificam para as olimpíadas?
A classificação para as Olimpíadas no vôlei de praia é um processo competitivo e complexo, que envolve várias etapas e critérios estabelecidos pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB) e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
Ao total são 24 vagas no feminino e no masculino para competir nas Olimpíadas e a principal forma de um atleta desta modalidade se classificar é por meio do Ranking Olímpico da FIVB. As duplas acumulam pontos ao competir em torneios internacionais, como o Circuito Mundial de Vôlei de Praia da FIVB, Campeonato Mundial, e outros eventos sancionados pela FIVB. Os pontos são acumulados durante um período de qualificação, que geralmente começa cerca de dois anos antes das Olimpíadas e as 15 melhores duplas de cada gênero no ranking olímpico, ao final do período de qualificação, garantem vaga direta nas Olimpíadas. Em caso de empate no ranking, diferentes critérios de desempate, como o melhor desempenho em eventos específicos, são aplicados.
A dupla vencedora do Campeonato Mundial de Vôlei de Praia, realizado pela FIVB durante o ciclo olímpico, garante uma vaga direta nas Olimpíadas.
Cada uma das cinco confederações continentais (África, Ásia, Europa, América do Norte, Central e Caribe, e América do Sul) organiza um torneio pré-olímpico no qual a dupla vencedora de cada torneio continental também se classifica para as Olimpíadas.
A nação que sedia os Jogos Olímpicos tem direito a uma vaga automática em cada gênero (masculino e feminino).
As últimas vagas são decididas em um Torneio de Qualificação Final organizado pela FIVB. Este evento reúne duplas que ainda não se classificaram e oferece as últimas oportunidades de garantir um lugar nas Olimpíadas.
Cada país pode inscrever no máximo duas duplas por gênero nas Olimpíadas, independentemente do número de duplas que estão bem posicionadas no ranking mundial. As duplas precisam atender a critérios de elegibilidade, como participar de um número mínimo de eventos FIVB durante o período de qualificação.
Entre as regras internas de cada país para selecionar as duplas que irão representá-los nos Jogos Olímpicos, muitas federações exigem que as duplas participem de acampamentos de treinamento, eventos de preparação, e cumpram com requisitos de comportamento e profissionalismo para serem elegíveis à seleção. Em alguns casos onde há disputa entre duplas para as vagas olímpicas, podem ser organizados torneios internos ou “playoffs” para decidir quais duplas se classificarão.
De Paris para o Brasil
Para entender melhor impacto do ouro nas Olimpíadas para o país, conversamos com o treinador de vôlei de praia Leonardo Marquez, que comemorou muito a vitória de Duda e Ana Patrícia, e acredita que o êxito delas pode trazer mais visibilidade para o esporte, tanto para o público quanto para o governo, que pode começar a investir mais em quadras para a população tendo em vista que a maioria das quadras de vôlei de areia sejam particulares, como a Off Beach em Viçosa, onde ele trabalha.
Ele garante que o vôlei de areia é uma ótima alternativa de atividade física, trazendo inúmeros benefícios ao corpo, em especial a resistência devido ao maior esforço de locomoção na areia em comparação com quadras tradicionais. Um exemplo de pessoa em busca desses benefícios é a Bianca Miranda, empresária e aluna de Leonardo nesta modalidade. De acordo com ela: “Meus objetivos a curto e longo prazo são a melhora da minha saúde, condicionamento e composição corporal, além de formar amizades com pessoas que praticam o esporte”.