O boxe é um esporte consagrado e que traz uma grande bagagem histórica. Desde a sua gênese no antigo Egito, a 3.000 a.C, o esporte tem sido difundido na cultura de diversos países das mais diversas formas.
Sua introdução nos jogos olímpicos ocorreu em sua terceira edição, nas olimpíadas de St. Louis em 1904, e, por muito tempo, a escola americana foi a principal referência no pugilismo mundial.
Com a Guerra Fria, as disputas políticas também invadiram os ringues, criando diversas outras academias do esporte e, assim, ampliando os estilos de luta praticados ao redor do mundo. Hoje em dia, não há mais a hegemonia do padrão americano e, a cada edição dos jogos olímpicos, vemos diferentes escolas disputando a tão sonhada medalha de ouro.
É claro que, como um dos países mais multiculturais do mundo, o Brasil não tem uma academia de boxe hegemônica. Diversos nomes do boxe brasileiro, como Popó, Esquiva Falcão e Hebert Conceição, aperfeiçoaram-se em diferentes estilos de luta.
Atualmente, essa pluralidade fez com que o Brasil se tornasse uma força em ascensão, sendo presença constante na briga pelas medalhas desde a virada do século, com destaque para Hebert Conceição ao ganhar a medalha de ouro em casa nas Olimpíadas do Rio em 2016.
Entretanto, os holofotes de Paris não estarão focados somente no atleta já detentor de uma medalha, mas em cada golpe de Beatriz Ferreira: um furacão que já mostrou ao mundo o que é capaz e agora quer a medalha de ouro olímpica.
Uma guerreira verde-amarela
Para Beatriz, o boxe vai além do esporte, já que seu pai, Raimundo Oliveira Ferreira, foi bicampeão brasileiro no início dos anos 2000. Desde os quatro anos, ela tem vestido as luvas com grande apoio de seu progenitor e primeiro treinador.
Em 2004, a atleta se mudou para Juiz de Fora continuou fortemente a praticar o esporte, até que o potencial de Bia se tornou tão grande que a levou ao Rio em 2016 para participar do projeto Vivência Olímpica, dando a oportunidade olímpica à Bia como adversária nos treinos de Adriana Araújo, medalhista de bronze de 2012.
Com a experiência, Beatriz abraçou o espírito olímpico de vez. A baiana juntou os conhecimentos adquiridos de seu pai e de Adriana Araújo e elevou seu nível. Ainda em 2016, foi campeã paulista e, um ano depois, sagrou-se campeã brasileira pela primeira vez. Desde então, ela se tornou um furacão: conquistou mais três títulos brasileiros, foi bicampeã pan-americana e, entre 2017 e 2021, a brasileira arrecadou 21 medalhas internacionais, vindo confiante para as olimpíadas de Tóquio.
Uma grande (e amarga) conquista
Beatriz participou dos Jogos Olímpicos pela primeira vez em 2021 e chegou como favorita à medalha de ouro na categoria peso leve. Em sua primeira luta venceu a pugilista Wu Shih-Yi do Taipé Chinês. Nas quartas de final a então campeã mundial não teve problemas ao enfrentar Raykhona Kodirova do Uzbequistão.
Com a medalha já garantida, Beatriz enfrentou a finlandesa Mira Potkonen na semifinal e novamente venceu por decisão unanime. Pela primeira vez na história, o Brasil tinha uma mulher na disputa pelo ouro olímpico no boxe. A adversária foi a irlandesa Kellie Harrington.
Apesar de ter ganhado o primeiro round, os juízes deram a vitória para a irlandesa. O ouro olímpico, que até então nunca esteve tão perto, novamente escapou. A prata, ainda que inédita para o Brasil, se tornou um lembrete para Beatriz de que ainda existem contas a serem acertadas.
Desde então, a brasileira entrou em uma forte preparação: após a derrota na final, Beatriz já se sagrou campeã brasileira, pan-americana e mundial novamente, além de um segundo lugar mundial em 2022 e mais dois títulos continentais.
As conquistas recentes de Beatriz nutrem o desejo da tão esperada medalha de ouro. Abner Teixeira e Hebert Conceição também são grande esperança de medalha para o Brasil esse ano e, para além deles, o boxe brasileiro vai em peso atrás das medalhas. Mas eles que se cuidem para hastear a bandeira brasileira no primeiro lugar, porque para Beatriz o ouro já é dela.