Nas Olimpíadas de Paris as discussões sobre os benefícios dos esportes olímpicos na vida das pessoas ganham destaque, como o boxe, que auxilia no combate contra depressão.
Por: Gabriel Victor, Pedro Victoretti e Ronaldo Scanavini.
O boxe é uma das modalidades mais tradicionais da história olímpica, tendo sua primeira aparição na era moderna nos Jogos de St. Louis em 1904. Apesar de tamanha tradição, o Brasil demorou alguns anos para se firmar como uma força no esporte, tendo seu primeiro medalhista de bronze nos Jogos do México em 1968, com Servílio de Oliveira.
Entretanto, apenas em Londres 2012 a seleção brasileira voltou a ganhar medalhas e, desde então, pelo menos uma medalha na modalidade tem sido trazida para casa mesmo após diferentes Jogos Olímpicos. Nas Olimpíadas de Paris, por exemplo, Beatriz Ferreira conquistou o bronze, sua segunda medalha, sendo a primeira de prata em Tóquio.
No entanto, com a maior visibilidade esportiva do boxe crescendo ao longo dos anos após adesão às Olimpíadas, o boxe exibe problemas entranhados em sua prática no contexto brasileiro, como a falta de investimento, a ausência de uma própria cultura nacional e até o preconceito.
Mesmo assim, o esporte ainda é uma ferramenta importante para desenvolvimento do autoconhecimento pessoal e de incentivo à saúde mental. Outros benefícios, inclusive, passaram a ser mais difundidos nas redes sociais, levando diversas pessoas a buscar e praticar o esporte, transformando suas vidas. Um exemplo é o humorista e influenciador digital Whindersson Nunes, que foi diagnosticado com depressão e viu o boxe como salvação após considerar o suicídio:
“O boxe salvou minha vida. Tenho depressão, e isso é uma coisa que vai e volta. O boxe fez com que eu me controlasse mentalmente. É um jogo de xadrez: preciso estar mentalmente regulado para chegar ao ringue”, disse Whindersson no programa “Provocações “, da TV Brasil.
Segundo o professor e atleta de boxe da academia WR em Viçosa-MG, Gedeão Ferreira, o boxe é a solução para muitas pessoas no desenvolvimento de confiança, seja para a comunicação, seja para a área profissional: “O boxe me ajudou muito na questão da confiança, e eu vejo isso também nos meus alunos. Alguns chegaram aqui até sem saber se comunicar, e com o tempo, essa confiança vai sendo trabalhada e melhorada.”
No boxe, existe também uma relação muito forte do lutador com seu treinador, como diz o ex-atleta e mestre do esporte, Alan Nishiuchi: “O treinador é o guia, é ele que mostra o nosso caminho. Eu, por exemplo, decidi melhorar como professor após ter perdido um aluno por falta de conhecimento. Ele queria ser um atleta legal, mas eu não tinha experiência para trilhar o caminho que ele tanto queria e por isso esse aluno acabou desistindo. Isso me gerou uma tristeza muito grande e me motivou a não cometer esse erro novamente. A falta de um treinador bom e bem instruído para orientar o atleta gera falta. O treinador é o guia, é ele que mostra o caminho.” ressalta Alan.
O treinador é uma peça primordial na preparação do atleta, tanto no contexto esportivo quanto humano, já que a relação criada por meio do combate fortalece laços e dá ao lutador motivos para continuar no boxe.
A prática de esportes de combate, como o boxe, permite a liberação de hormônios ao atleta, como o da felicidade, desencadeando diversos benefícios. Ela reeduca o praticante até em sua vida pessoal, ajudando-o a se posicionar melhor na sociedade, afastando-se de más companhias ou até da criminalidade, conforme Gedeão:
“Nós aprendemos a controlar emoções, aprendemos a pensar melhor em momentos críticos e é justamente isso que proporciona que evitemos alguma confusão. Tem uma frase aqui na academia que é ‘Quem luta, não briga’. Ou seja, não é que a pessoa vá colocar seu filho no boxe e ele automaticamente vai virar o maior brigador de rua, muito pelo contrário, isso vai ajudar ele a talvez lidar melhor com alguma raiva que ele tem ou algo do tipo.”.
O boxe, assim como diversas outras modalidades olímpicas, tem um papel primordial na vida de muita gente que vê nele uma oportunidade de recomeço, onde a prática do esporte melhora a sua condição física, mas, principalmente, sua saúde mental, auxiliando em relações pessoais, no controle de emoções e na disciplina social.