Olimpíadas Na Área | Gabriel Medina, o primeiro campeão mundial brasileiro em busca de redenção

Hoje em dia, é muito fácil garantir que o surfe brasileiro vive o seu melhor momento. Os campeões das últimas cinco edições da WSL (Circuito Mundial de Surfe) e o atual medalhista de ouro olímpico nasceram em terras brasileiras, o que se deve ao crescimento da modalidade em âmbito global. Apesar das maiores potências do surfe ainda serem Havaí, Estados Unidos e Austrália, o Brasil atualmente detém seis títulos mundiais da modalidade.

Tal caminho começou em 2014, quando Gabriel Medina se sagrou campeão mundial, vencendo Mick Fanning, que defendeu seu título de 2013. Desde então, os brasileiros têm se consolidado como uma força dominante no surfe mundial e continuam a brilhar, além, claro, de conquistar títulos importantes. Seria o Brasil também o país do surfe? 

A primeira edição do circuito mundial foi em 1976, com o australiano Peter Townend se sagrando campeão. Tal título foi um leve indício do monopólio nas águas do principal campeonato de surfe do mundo. De todos os 56 campeões, 46 são das principais potências do esporte. Apesar da ampla dominância dos rivais em termos de cultura e investimento, a “Brazilian Storm” surgiu justamente em Gabriel Medina – o termo foi criado pela imprensa americana para se referir à nova geração de surfistas brasileiros que já vinham se destacando no mundial. O Brasil finalmente chegou ao topo com Medina em 2014 e juntamente com ele, surgiram Filipe Toledo e Italo Ferreira, que também se sagrariam vencedores no principal cenário do esporte praiano.

O que antes era uma modalidade muito polarizada, agora tem a bolha estourada pelos brasileiros, que vêm crescendo cada vez mais em âmbito internacional, principalmente nas Olimpíadas em Tóquio 2020. O surfe se manteve entre as maiores audiências dos Jogos na capital japonesa, evidenciando que o cenário tende a crescer ainda mais em Paris.

Gabriel Medina, o primeiro campeão mundial brasileiro e o único tri-campeão, não atendeu todas as expectativas em Tóquio, mas ele certamente pretende mudar essa realidade nas águas da França, ou melhor, do Taiti.

Das águas do litoral de São Paulo ao topo do mundo

Fotos: Reprodução/ GE e Kirstin Scholtz / ASP

Gabriel Medina começou a surfar muito cedo, já aos 8 anos, nas águas de São Sebastião, sua cidade natal, situada no litoral norte do estado de São Paulo. Seu padrasto, Charles Saldanha, também conhecido como Charlão, era surfista amador e contribuiu significativamente para que essa paixão crescesse cada vez mais naquele jovem garoto. Ainda na infância, Medina decidiu começar a treinar profissionalmente com o objetivo de competir.

Aos 11 anos, Medina venceu seu primeiro campeonato nacional, o Rip Curl Grom Search na categoria sub-12 em Búzios, no Rio de Janeiro. Em 2009, com apenas 16 anos, ele assinou seu primeiro contrato profissional com a empresa australiana Rip Curl.

O ano de 2011 foi definitivamente o que colocou Medina nos holofotes do surfe mundial – já como uma grande promessa. Naquele ano, o atleta brasileiro venceu etapas do WQS Prime em Ibituruna (Santa Catarina), França e Espanha. Além disso, ganhou também o ASP World Tour, evento organizado pela WSL (World Surf League) e finalizou o ano conquistando o World Junior Tour e, antes mesmo dos 20 anos, consolidou-se como um dos melhores da nova geração que estava surgindo.

Aos 17 anos, Medina tornou-se o surfista brasileiro mais jovem a chegar na WSL e, três anos depois, faria história. Em uma final contra o então campeão Mick Fanning, ele se tornaria o primeiro surfista brasileiro a ser campeão mundial.

A partir dali, o atleta brasileiro nunca saiu do protagonismo da liga e não demorou muito até ele ser campeão novamente em 2018. Desta vez, foi contra o também australiano Julian Wilson.

Em abril de 2021, Gabriel Medina se sagrou campeão pela terceira vez, consolidando-se como favorito à medalha em Tóquio. No entanto, as expectativas não foram atendidas…

A nova chance olímpica

Foto: Miriam Jeske / COB

Gabriel Medina desembarcou em Tóquio cercado de expectativas. Campeão mundial meses antes, ele era o principal nome brasileiro naquela Olimpíada, que por si só já era histórica. O surfe oficialmente passou a fazer parte do quadro olímpico em Tóquio, o que culminou em mais visibilidade para o esporte, que vem crescendo continuamente nos últimos anos.

Apesar de todas as expectativas, Medina acabou ficando fora do pódio na capital japonesa, perdendo para o anfitrião Kanoa Igarashi na semifinal e para o australiano Owen Wright na disputa pelo bronze. Após o fim das Olimpíadas, o atleta brasileiro deu uma pausa no esporte por alguns meses para cuidar da saúde mental e retornou ao final de 2022.

Gabriel Medina é uma das principais esperanças de medalha para os brasileiros em Paris. As baterias referentes à disputa de surfe serão em Teahupoo, uma vila na costa oeste do Taiti, uma das ilhas da Polinésia Francesa, a mais de 15.000 km da capital da França. A decisão se deve ao objetivo de valorizar as históricas ondas da ilha, que anualmente sedia uma das etapas da WSL. Inclusive, Gabriel Medina tem um ótimo retrospecto por lá. Em todas as vezes que surfou no Taiti, ele ou foi campeão ou ficou entre os três primeiros. Medina volta a Teahupoo para retornar ao lugar que nunca deveria ter saído: o topo.

Gabriel Medina, Filipe Toledo, João Chianca, Tatiana Weston-Webb, Luana Silva e Tainá Hinckel são os surfistas brasileiros confirmados em Paris. Todos eles, além de carregar a bandeira do Brasil, também levantam a bandeira de praticar um esporte que cada vez mais vem ganhando força nas águas nacionais. Afinal, não se ganha cinco títulos mundiais consecutivos por acaso.