Paris 2024 foi palco da melhor participação da história do Judô Brasileiro.
Por: Lara Mendes, Carol Braga e Ana Luiza Oliveira
A arte marcial japonesa mais tradicional, o judô, contou em Paris 2024 a melhor participação brasileira na história do esporte em todas as Olimpíadas, com 4 medalhas conquistadas, entre elas uma ouro, uma de prata e duas de bronze – sendo na categoria individual e outra por Equipe Mista.
Funcionalismo judoca e convocação em 2024
Atualmente nos moldes olímpicos, a modalidade é dividida em 15 categorias, dentre elas 7 individuais de cada gênero e uma de equipe mista. A Confederação Brasileira de Judô (CBJ), no entanto, convocou 13 atletas apenas, visto que Luana Carvalho não ficou em posição de classificação na sua categoria até 70 quilos.
Entre os 13 atletas que foram à Paris, 7 participaram pela primeira vez de uma Olimpíada. São eles: Natasha Ferreira (-48kg), Beatriz Souza (+78kg), Guilherme Schimidt (-81kg), Leonardo Gonçalves (-100kg), Willian Lima (-66kg), Rafael Macedo (-90kg) e Michel Augusto (-60kg).
Os demais atletas são experientes na disputa das Olimpíadas, já que todos eles participaram de pelo menos uma outra edição da competição, alguns somando até medalhas em edições passadas. Mayra Aguiar (-78kg) trimedalhista olímpica, Rafaela Silva (-57kg ) ouro no Rio 2016, Ketlyn Quadros (-63kg) bronze em Pequim 2008, Larissa Pimenta (-52kg) que estreou em Tóquio 2020, Daniel Cargnin (-73kg) bronze em Tóquio 2020 e Rafael Silva “Baby” (+100kg) com dois bronzes e que disputou sua terceira Olimpíada.
Miyata: longevidade no judô brasileiro
O Olimpíadas na Área foi atrás do atleta Fúlvio Kimio Miyata, 47 anos, ex-técnico da seleção brasileira de judô e atualmente técnico principal da base de judô do Minas Tênis Clube. Fúlvio iniciou sua carreira aos 7 anos, em São José dos Campos, sua cidade natal, e aos 15 anos, mudou-se para a capital para aprimorar suas técnicas, ingressando na seleção brasileira aos 19 anos.
Miyata representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004 e foi reconhecido como um dos judocas mais técnicos de sua geração, além de ser bronze no mundial de Judô em 1997. Como técnico, comandou a seleção sub-18 e sub-21 e, em 2013, assumiu a seleção masculina principal do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio 2016.
Academicamente, ele é formado em Educação Física pela Universidade do Vale do Paraíba (UFPB), além de outros cursos como Curso de Esporte de Alto Rendimento “Aperfeiçoamento Técnico”, Saúde e Educação Física pela ABT – (Academia Brasileira de Treinadores / COB) em 2015.
Realidade do Judô no Brasil
Em entrevista, o ex-treinador da seleção olímpica de Judô do Brasil disse que a modalidade tradicionalmente busca mesclar atletas mais experientes com promessas mais jovens, principalmente em categorias mais leves. Já em categorias mais pesadas, a tendência é do atleta ter uma atuação mais longeva.
A primeira medalha brasileira em Paris veio de um judoca, o recém pai William Lima havia prometido ao seu filho Dom de 10 meses que subiria ao pódio nesta edição, o brasileiro enfrentou o japonês Hifumi Abe (que estava a mais de 40 partidas invicto e atual campeão olímpico). Mesmo com a derrota na final, o papai de primeira viagem comemorou muito com seu filho e esposa sua primeira medalha olímpica.
Outra atleta que subiu ao pódio pela primeira vez foi Larissa Pimenta, que havia ido a Tóquio 2022, no entanto somente em Paris conseguiu sua medalha. A brasileira atua na categoria de menos de 52 quilos e conseguiu pela repescagem chegar na disputa pelo bronze, na qual enfrentaria a italiana Odette Giuffrida, atual campeã mundial em uma partida difícil definida pelo terceiro shido (punição no judô), o que trouxe Larissa ao pódio.
Por fim, a campanha mais impressionante foi da estreante Beatriz Souza na categoria mais de 78 quilos. Em sua primeira luta, a brasileira venceu com um ippon, golpe que vale dois pontos e finaliza a partida assim que é acertado. Na semifinal mais um grande feito, Bea venceu a francesa número 1 do ranking mundial e atual campeã mundial com um ippon e na final com um wazari a israelense Raz Hershko, sagrando-se assim campeã olímpica. O atual treinador de Judô do Minas vê potencial em Bea Souza para atuar em Los Angeles 2028 em alto nível e até em Brisbane 2032 disputando para ser uma possível bicampeã olímpica.
Fúlvio Miyata ainda ressaltou as crescentes conquistas devido a tradicionalidade da modalidade em solo brasileiro e o alto número de atletas federados, que, segundo a própria Confederação Brasileira de Judô (CBJ) são mais de 85 mil atletas por todo país em uma pesquisa de 2022.
Grandes atletas citados acima treinam em diversos clubes do Brasil que são conhecidos, principalmente, pelo destaque que têm no esporte e sua boa estrutura para esses judocas. Os três principais clubes no masculino são o Esporte Clube Pinheiros em São Paulo, clube onde treinam os três medalhistas olímpicos individuais de Paris 2024 e o Instituto Reação que seu principal polo é no Rio de Janeiro. Já no feminino são destaques o Clube de Regatas Flamengo que fica no Rio de Janeiro, o Grêmio Náutico União, localizado também em Porto Alegre e como no masculino, o Instituto Reação
, com seu polo principal também no Rio de Janeiro. Com isso, é possível analisar que os melhores centros de treinamento estão localizados no sul e sudeste do nosso país.