Olimpíadas Na Área | Rebeca Andrade, de “Daianinha de Guarulhos” à elite da ginástica 

Quando se fala em Jogos Olímpicos é impossível não vir à mente o espetáculo de um solo de ginástica artística. O completo domínio corporal que resulta na perfeição dos saltos, simetria em cada acrobacia, flexibilidade e equilíbrio impressionantes que tornam cada movimento preciso e bonito aos olhos de quem vê. É fato que em época de Olímpiadas até quem não é muito ligado ao esporte para tudo só pra assistir ao show das ginastas. 

A ginástica artística surgiu na Grécia em razão da obsessão pela estética corporal, uma vez que era praticada no intuito de fortalecer e tonificar cada músculo isolado do corpo, que só poderiam ser realizados com as sequências e movimentos específicos. No entanto, acabou se tornando uma modalidade esportiva com a criação de centros de treinamento, e, no ano de 1881, a fundação da Federação Internacional de Ginástica consolidou a sua prática. 

Com esse cenário, a ginástica foi integrada como uma das modalidades disputadas na primeira Olímpiada da história, em 1896. No entanto, o Brasil só entrou em cena após aproximadamente um século, no ano de 1980. A ingressão tardia em competições colocou o país em desvantagem na questão da tradição, já que, durante esse período, o desporto já havia se fortalecido nos países europeus e no norte da América. 

Para reverter a situação, o encanto dos brasileiros pela modalidade surgiu em Atenas, no ano de 2004, quando Daiane dos Santos elevou a ginástica brasileira ao patamar mundial e terminou a competição em quinto lugar. Embora não tenha conquistado medalhas olímpicas, a ginasta tornou-se referência para diversos jovens que tinham o mesmo sonho. E é aí que entra Rebeca Andrade: a possível protagonista do esporte nos Jogos de Paris. 

Do ninho ao primeiro voo e do bater das asas até o céu

Foto: Jonne Roriz/COB

Nascida em Guarulhos, Rebeca Rodrigues de Andrade iniciou seus treinamentos ainda com quatro anos de idade, após ser encaminhada por sua tia para um projeto de incentivo à prática esportiva da prefeitura de seu município. Sua desenvoltura fascinou sua treinadora, que logo percebeu estar diante de uma promessa da ginástica. 

O deslocamento para o ginásio não era fácil. Rosa Santos, mãe de Rebeca, costumava pagar o valor da passagem de ônibus para o local de treino. Contudo, devido à instabilidade financeira da família, a jovem precisou substituir as viagens de condução por caminhadas de 7 km, o que custava cerca de duas horas não só do seu dia, como também do seu irmão Emerson, que era o responsável por acompanhá-la em seus treinos. 

No ano de 2010, a ginasta se mudou para Curitiba para treinar com a Seleção Brasileira, e já no ano seguinte passou a morar no Rio, quando assinou contrato com a equipe de ginástica artística do Flamengo. Em 2012, na sua primeira competição na elite do esporte, Rebeca conquistou o Troféu Brasil de Ginástica Artística, superando atletas que já eram mais experientes.  

Com seu nome previamente consolidado em âmbito nacional, a esportista mostrou ao mundo seu talento quando recebeu a medalha de bronze nas barras paralelas assimétricas na Copa do Mundo, que ocorreu em 2015 na Liubliana, capital da Eslovênia. A partir desse momento, o sonho só crescia. 

Sua estreia em Jogos Olímpicos foi em solo brasileiro, no Rio. Contudo, Rebeca conquistou sua primeira medalha olímpica em Tóquio, 2021. O “Baile de Favela” contagiou todos os espectadores, e, desse modo, ela se consagrou como a primeira brasileira a conquistar uma medalha na ginástica artística da Olímpiada. Seu excelente desempenho a colocou em posição de destaque e a expectativa é de protagonismo em Paris. 

Em busca do bicampeonato

Foto: COB 

No contexto dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Rebeca Andrade estava se recuperando de três lesões consecutivas no joelho, e, a princípio, seu objetivo era se alcançar o topo como atleta olímpica. Com a conquista do primeiro lugar no salto e do segundo lugar no solo, a ginasta pôde recuperar sua autoconfiança e mostrar novamente seu potencial ao mundo. 

Rebeca conquistou nove medalhas em Mundiais desde o feito no Japão, e, agora, terá a oportunidade de disputar até seis pódios em Paris. Espera-se que a atleta apresente bons resultados nos jogos, a fim de obter seu segundo ouro consecutivo na mesma competição. 

O maior nome da ginástica artística na atualidade, Simone Biles, revelou que tem Rebeca como sua maior preocupação entre as rivais, o que evidencia a posição da brasileira como favorita ao pódio. Além disso, a atleta do Flamengo assumiu se sentir ainda mais segura de si, permitindo que os brasileiros anseiem pelo seu espetáculo nos ginásios. 

O Time Brasil, composto por Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Julia Soares, Lorrane Santos, Arthur Nory e Diogo Soares já está em Paris, e conta com a torcida da nação para conquistar medalhas inéditas nos diversos aparelhos.