Paris 2024 está de volta. Duas semanas após o fim das Olimpíadas, é dada a largada para as Paralimpíadas, edição que marca a 17ª na história do evento. O esporte para pessoas com deficiência já é praticado há mais de 100 anos, com registros documentados de inclusões de surdos em disputas esportivas em Berlim, no ano de 1888. No entanto, foi apenas após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, que o esporte paralímpico ganhou força mundial.
Com a crescente procura pela prática esportiva por pessoas com deficiência, as Paralimpíadas foram introduzidas nos Jogos Olímpicos na edição de Roma, em 1960, com 400 inscritos de 23 países. No contexto brasileiro, a primeira delegação a participar foi em Munique 1972, e a primeira medalha foi conquistada em Montreal 1976, com a dupla Robson Sampaio e Luiz Carlos da Costa no lawn bowls, modalidade bastante parecida com a bocha, mas que já não faz mais parte do programa dos Jogos Paralímpicos.
Retrospecto do Brasil nas Paralimpíadas
Historicamente, o Brasil sempre teve um papel relevante no contexto paralímpico, tendo conquistado ao longo de sua história 372 medalhas. Agora, a delegação brasileira busca alcançar a marca de 400 conquistas em Paris. Durante toda a trajetória do esporte para deficientes do Brasil, o maior nome é, sem dúvida, Daniel Dias, nadador brasileiro que nasceu com má-formação dos membros superiores e inferiores e competiu nas classes S5, SB4 e SM5 nos Jogos Paralímpicos.
Daniel competiu nas Paralimpíadas de Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020, conquistando um total de 27 medalhas, tornando-se o maior medalhista brasileiro na história dos Jogos Paralímpicos. Ele se despediu após a última edição do torneio, com três medalhas de bronze, deixando um legado único.
Porém, antes de Daniel, muitos outros atletas ajudaram a construir a história paralímpica do Brasil. A primeira edição em que o país mostrou seu real potencial paralímpico foi em Los Angeles 1984, com a conquista de 28 medalhas. Vinte anos depois, no berço olímpico em Atenas, o Brasil finalmente superou a marca de 30 pódios ao longo da competição.
Nas últimas edições dos Jogos Paralímpicos, o Brasil formou diversos ídolos, como Clodoaldo Silva, da natação, que conquistou seis medalhas de ouro na Grécia, Ádria Santos, do atletismo, e Antonio Tenório, do judô. Entre todos esses craques históricos, é importante destacar dois atletas que ajudaram a construir uma geração hegemônica no futebol de 5 (para deficientes visuais). Desde sua implementação nos Jogos, em Atenas, o Brasil venceu o ouro em todas as edições, empilhando cinco ouros , uma ampla dominância que também se deve a craques como Jefinho e Ricardinho, ambos tetracampeões paralímpicos.
Confira o retrospecto do Brasil nas últimas edições das Paralimpíadas
- Atenas 2004: 14 ouros, 12 pratas, 7 bronzes, 33 medalhas
- Beijing 2008: 16 ouros, 14 pratas, 17 bronzes, 47 medalhas
- Londres 2012: 21 ouros, 14 pratas, 8 bronzes, 43 medalhas
- Rio 2016: 14 ouros, 29 pratas, 29 bronzes, 72 medalhas
- Tóquio 2020: 22 ouros, 20 pratas, 30 bronzes, 72 medalhas
- Retrospecto geral: 108 ouros, 129 pratas, 135 bronzes, 372 medalhas
Quem se deve ficar de olho em Paris 2024
A delegação brasileira que desembarcou em Paris conta com 280 atletas, com idades entre 16 e 64 anos. Embora a participação feminina ainda seja minoritária, com pouco mais de 40% dos competidores, essa edição marca a maior participação de mulheres do Brasil em Paralimpíadas. O número de membros da delegação nacional é o segundo maior da história do país, ficando atrás apenas do Rio 2016, que contou com 285 integrantes.
Das 22 modalidades previstas no programa dos Jogos, o Brasil tem representantes em 20, não tendo conseguido vaga no basquete em cadeira de rodas e no rúgbi em cadeira de rodas.
Entre os atletas brasileiros, alguns destaques são:
- O mais jovem membro da delegação, Victor dos Santos Almeida, é um nadador da categoria S9 (limitação físico-motora) de apenas 16 anos e três meses. Sua principal prova é os 100m costas.
- A mais nova atleta da equipe é a mesatenista Sophia Kelmer, da classe 8 (para atletas que jogam em pé com transtorno do movimento de baixo grau em ambos os braços ou em ambas as pernas, ou com ausência de membros). Sophia completará 17 anos em dezembro.
- Entre os mais velhos, temos Eugênio Franco, de 64 anos, que compete no tiro com arco, e Beth Gomes, de 59 anos, que compete no lançamento de disco na classe F52 (para atletas que competem sentados).
- Outro destaque é Gabriel Araújo, de apenas 22 anos, considerado uma das maiores esperanças de medalha para o Brasil em Paris. Medalhista de ouro em Tóquio nos 200m livre da classe S2 (para atletas com deficiência física severa), Gabriel disputará cinco provas em Paris: 100m Costas S2, 50m Costas, 150m Medley SM3, 200m Livre S2, e 50m Livre S3.
Cerimônia de abertura
A cerimônia de abertura das Paralimpíadas de Paris foi, mais uma vez, inovadora, saindo das dependências de um estádio para que os atletas tomassem as ruas da Cidade Luz, desfilando pela famosa avenida Champs-Élysées em direção à Praça La Concorde.
O espetáculo teve início com um curta-metragem estrelado pelo nadador francês Théo Curin, com a praça se transformando em um grande teatro a céu aberto. Mais de 35 mil pessoas nas arquibancadas assistiram a um show de dança que celebrou o esporte, a arte, a liberdade e a inclusão. A performance foi protagonizada por 140 dançarinos vestidos com ternos pretos, simbolizando a dura rotina de trabalho em uma sociedade excludente. No entanto, esses personagens foram ofuscados por 16 dançarinos com deficiência, que, com roupas leves e coloridas, exigiam inclusão.
As delegações entraram em ordem alfabética após uma explosão de cores da bandeira francesa, e os porta-bandeiras do Brasil foram Gabrielzinho e Beth Gomes.
Após o desfile da delegação francesa, que tradicionalmente foi a última por ser o país sede, os dançarinos voltaram ao palco com uma performance chamada “Minha Habilidade”. Essa apresentação retratou a redescoberta e aceitação do próprio corpo, mostrando como cada pessoa pode perceber a perfeição e capacidade em suas próprias deficiências.
A tocha paralímpica foi carregada por 12 atletas que marcaram a história dos Jogos, todos medalhistas de ouro em edições anteriores. Entre os responsáveis por carregar a tocha estava a americana Oksana Masters, sobrevivente do acidente nuclear da usina de Chernobyl e dona de 17 medalhas paralímpicas.
As Paralimpíadas de Paris 2024 começaram com uma abertura repleta de arte, inclusão e aceitação. Os brasileiros chegam à Cidade Luz prontos para fazer história mais uma vez. Mais de 250 atletas irão representar as cores verde e amarelo nos próximos dias, com o sonho de alcançar o ponto mais alto do esporte mundial: o pódio paralímpico.