O futebol é mais que um esporte no Brasil. É uma paixão nacional que une pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais. Em cada canto do país, seja nas ruas, em campinhos, na escola, são vistas crianças jogando bola, sonhando em se tornarem os próximos grandes ídolos. O esporte é parte essencial da cultura brasileira, um verdadeiro fenômeno que transcende barreiras e se manifesta de diversas formas. Dentro dessa imensidão, existe uma modalidade que carrega consigo algo muito singular: o Futebol de 5, esporte adaptado para atletas com deficiência visual.
Desde 2004, nos Jogos em Atenas, o esporte faz parte das Paralimpíadas, mas sua prática começou bem antes disso. De maneira mais informal, há relatos que desde os anos 30, alunos de institutos para cegos jogavam futebol nos recreios. Neste início, a modalidade já era realizada com bola-objetos que faziam barulhos, (garrafas com pedra, latas) para auxiliar na orientação dos jogadores.
A primeira aparição do esporte em campeonatos foi em 1978, com sua inclusão nas IV Olimpíadas Nacionais de APAES. Depois, em 1984, aconteceu a primeira competição exclusiva do esporte, a Copa Brasil de Futebol de 5, em São Paulo.
A grande virada de chave, que resultou na expansão do Futebol de 5, ocorreu em 1995, quando a Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBAS) criou um subcomitê para o futsal, permitindo assim, que houvesse uma definição para as regras de jogo, o que garantiu uma estrutura para a prática do esporte por cegos e deficientes visuais. Como consequência, ocorreram as primeiras competições continentais do Futebol de 5.
Com o desenvolvimento do esporte, o IBAS solicitou ao Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) a inclusão da modalidade nos Jogos Paralímpicos. No comitê executivo do IPC, em 2000, o esporte entrou oficialmente nos jogos, tendo sua primeira aparição em 2004.
E como não poderia ser diferente, o Brasil, país do futebol, conquistou o ouro, mas não só na estreia da modalidade, mas como em todas as edições das Paralimpíadas até aqui: Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020. E existe uma peça fundamental que esteve em quatro, das cinco conquistas brasileiras, Ricardinho, um verdadeiro craque e camisa 10 da nossa seleção.
Um sonho nunca morre.
Ricardo Steinmetz Alves, nasceu no dia 15 de dezembro de 1988, em Osório, no Rio Grande do Sul. Sempre apaixonado pelo esporte mais prestigiado no país, Ricardinho tinha o sonho de se tornar um grande jogador de futebol, e sempre mostrou ter aptidão e habilidade para a prática. O tetracampeonato da seleção brasileira, em 1994, foi um marco, alimentando ainda mais seu desejo. Mas algo inesperado iria acontecer: aos oito anos de idade sua vida sofreria uma grande reviravolta.
Diagnosticado com toxoplasmose congênita, Ricardinho teve como principal sequela o deslocamento da retina. Fez cinco cirurgias para corrigir o problema, mas todas sem sucesso, anos depois, perdeu completamente a visão. Esta complicação o fez pensar que ali era o fim do seu sonho de ser jogador.
Aos dez anos de idade, através da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (ACERGS), Ricardinho conheceu o Futebol de 5, e já era visto como um jogador acima da média. Com doze anos já disputava contra meninos mais velhos, e com todo destaque, aos quinze anos, foi convocado para a seleção brasileira, sendo eleito no ano seguinte o melhor jogador do mundo.
E é de se imaginar que um jogador da qualidade de Ricardinho empilharia títulos. O craque brasileiro é tetracampeão olímpico, tricampeão mundial, pentacampeão parapan-americano além de ter sido eleito três vezes melhor jogador do mundo.
O craque já revelou que usa da sua memória visual da infância para realizar os movimentos de jogo: “Fora do esporte eu lembro de muita coisa: cores, formato das coisas… Para o futebol, acho que isso me ajudou muito, porque as pessoas sempre me dizem: ‘parece que tu tá enxergando…’ “ – disse Ricardinho.
Agora em 2024, Ricardinho vai para sua quinta Paralimpíada, com o objetivo de conquistar sua quinta medalha de ouro, para reafirmar a tradição do Brasil na modalidade.
Em busca de manter o legado vivo!
O Brasil foi um dos pioneiros da prática e isso se reflete na quantidade de títulos e tradição no esporte. Ser o único país a conquistar o ouro em uma modalidade não é para qualquer um, e nessas Paralimpíadas, em Paris, a delegação brasileira vai em busca de manter esse legado vivo e conquistar sua sexta medalha de ouro.
Mas para buscar o hexa, o Brasil não terá um caminho fácil, Turquia, China e França serão os adversários da seleção na fase de grupos da competição. A estreia é dia 1 de setembro contra a seleção turca, e a grande final será no dia 7 de setembro, no Estádio Torre Eiffel. Para esse tão sonhado ouro, a delegação contará com seu craque, e um dos melhores jogadores da modalidade.
Ricardinho é mais do que um grande jogador do Futebol de 5, ele é um exemplo de superação, talento e determinação. Sua trajetória vitoriosa e seu domínio dentro de campo inspiram, e mostram que as limitações são superadas pela paixão e pela dedicação ao esporte. Nosso camisa 10 do Futebol de 5 não é apenas um ídolo no esporte adaptado, mas uma referência de que, com esforço e amor pelo que se faz, o impossível se torna realidade.