Na última semana, o mundo do futebol se chocou com a notícia de que Jürgen Klopp não seria mais treinador do Liverpool a partir da proxima temporada. Com contrato até 2026, o alemão foi vencido pelo cansaço: seu maior rival ao lado de Pep Guardiola.
Carismático inigualável, Jürgen Klopp sempre foi um treinador movido pela paixão e seus socos no alto deixaram um legado por onde passou. Basicamente, não teve descanso desde o início de sua jornada no futebol, e 23 anos depois, isso começou a cobrar um preço.
A trajetória de Klopp no futebol começou dentro das quatro linhas, sendo um jogador modesto de times menores da Alemanha. Como ele mesmo diz, era “um jogador com os pés na Bundesliga e cabeça na quarta divisão”. Esse era o atleta Jürgen Klopp na temporada 2000-2001, um ex-atacante com poucos gols e um lateral limitado, porém de forte liderança. O dia era 25 de fevereiro de 2001, e o Mainz 05 perdia por 3×1 para o Greuther Furth pela Bundesliga 2, partida essa que foi a última de Klopp como jogador.
O atual diretor do time teve uma ideia tão quanto inusitada: demitir o atual treinador e apostar que os próprios jogadores e dirigentes treinassem o time na reta final da temporada, e ali começava uma era em Mainz. Poucos dias após a derrota para o Greuther Furth, Klopp era anunciado como novo treinador do time principal, praticamente sem intervalo entre uma carreira e outra, e logo foi motivo de desconfiança da torcida e da imprensa. Poucos sabiam que o treinador iria protagonizar a reação do clube no decorrer da temporada e conquistar a permanência na Bundesliga 2 para a temporada 2001-02.
Agora, como treinador efetivado, Klopp já começou a implementar o estilo que utiliza até hoje no Liverpool e, após dois anos, na temporada 2003-04, conquistou o sonhado acesso à Bundesliga, o maior feito de sua carreira, segundo o próprio. Ali, a história do clube mudava completamente, tendo presença corriqueira na primeira divisão e até jogando a sua primeira Liga Europa sob o comando de Klopp.
No ano de 2008, Klopp mudaria de ares e desembarcaria em Dortmund, cidade na qual “You’ll Never Walk Alone” entraria em sua vida. No time da Muralha Amarela, o treinador contribuiu com a montagem do elenco duas vezes campeão alemão, após quase 10 anos. O time era novamente competitivo, com um futebol que conquistava o mundo e um jovem Robert Lewandowski perfilando seu futebol. No fim, bateu na trave, pela primeira vez, em sua carreira na Champions League, perdendo a final por 2×1 contra o Bayern, mas não deixou de, mais uma vez, deixar um legado.
Já em 2013, um treinador era contratado pelo Bayern de Munique e ali se iniciava uma das maiores rivalidades da história. Pep Guardiola desembarcou na Baviera e começou uma hegemonia em Munique, dando indícios do que veríamos pela frente.
Em sua despedida da Muralha Amarela, em 2015, Klopp é ovacionado, mostrando a gratidão que aquela cidade tem com o treinador. Foram 8 anos da mais íntima história de amor entre os dois.
Klopp chegava no conturbado Liverpool, na época, denominado “Campeão do 7º lugar”, deixando claro que ninguém ia caminhar sozinho. Poeticamente, o “You”ll Never Walk Alone” não se distanciaria da sua vida.
Ali se iniciava a história. Jogadores como Salah, Mané, Van Dijk e Alisson chegaram a Anfield muito por influência de Klopp e, acima de tudo, o time se tornava novamente vencedor. Na sua primeira temporada, Klopp levou o time até a final da Europa League, eliminando o seu ex-time Borussia Dortmund, mas não saiu campeão, perdendo para o Sevilla na final. Mal sabia aquela torcida o que estaria por vir.
Um ano após a sua chegada na Inglaterra, o seu maior rival desembarca no país e mostra que não seria nada fácil sua passagem pela Premier League. Pep Guardiola chega ao Manchester City e inicia uma dinastia, que só não foi mais dominante graças a Jürgen Klopp.
Ambos os times tinham que fazer o seu máximo para vencer todos os jogos, um não dava margem de erro ao outro. Para ser o melhor time, primeiro tinha que ser melhor que o outro. Duas campanhas de mais de 90 pontos do Liverpool não foram suficientes para sair com o título, 98 e 92 pontos pareciam ser pouco. E quando finalmente saíram vencedores? Foram necessários 99 pontos. Eles se completam.
Quando informado que Klopp deixará o Liverpool, Pep Guardiola diz que certamente dormirá mais tranquilo nas vésperas de confrontos contra os Reds. O futebol inglês certamente sentirá um vazio por um bom tempo.
A história seguia sendo escrita em âmbito continental, com o título da Champions League de 2019. Uma coroação que aqueles jogadores mereciam, que aquela cidade merecia e, acima de tudo, Klopp merecia. Chega de bater na trave! O Liverpool Football Club finalmente se sagra seis vezes campeão da UEFA Champions League, numa campanha em que o “You’ll Never Walk Alone” foi mais necessário do que nunca.
Quase nove temporadas se passaram, Klopp levou o Liverpool a vencer a Premier League após 30 anos, os fez conquistar a Champions League após 14 anos e literalmente não lhe falta conquistar mais nada. Klopp fez o Liverpool voltar a vencer. Klopp venceu. Talvez, se não fosse uma pedrinha no sapato chamada Pep Guardiola, o treinador alemão tivesse números ligeiramente mais elevados. Mas não importa, nada diminuirá o legado do treinador que colocou novamente o Liverpool em evidência.
No momento da escrita deste texto, o Liverpool segue vivo em quatro competições e tem a chance de encerrar a era Jürgen Klopp da forma mais honesta: vencendo. Está acabando, mas ainda não é o fim. Quando Klopp der o último toque na placa de Anfield, ele terá uma única certeza: que jamais caminhará sozinho.