Combate à pobreza menstrual exige esforços

Cerca de 25% das pessoas que menstruam ainda vivem sem dignidade menstrual. A falta de acesso a itens de higiene básica é apenas uma parte desse problema

Quatro em cada dez pessoas convivem com a pobreza menstrual, sendo as jovens as principais afetadas, segundo pesquisas realizadas pela empresa Sempre Livre em 2021. O termo se refere à falta de acesso a itens de higiene pessoal, mas abrange uma problemática ainda maior. Além da precariedade em saneamento básico, banheiros e os preconceitos enfrentados por pessoas com útero, há ainda a dificuldade para reconhecer a situação como uma injustiça social que pode ser transformada.

Além disso, o cenário pandêmico piorou a situação, aumentando para 29% o número de pessoas que tiveram dificuldades financeiras para comprar itens de higiene, sendo que 21% têm essa dificuldade todos os meses. Devido à dificuldade em se adquirir os produtos adequados, quem é afetado pela pobreza menstrual utiliza recursos contraindicados para absorver a menstruação durante o período: sacos plásticos, sacolinha de supermercado, roupas velhas, filtro de café e, até mesmo, jornal ou miolo de pão. 

Conforme a professora de Saúde da Família da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Beatriz Caçador, é preciso pensar a saúde da mulher como um conjunto de estratégias políticas que visem à sua integralidade: 

“É uma cadeia de eventos que colocam em risco a saúde dessas mulheres e dessas meninas. Riscos evitáveis, que do ponto de vista do direito à saúde, a gente deveria garantir, considerando a integralidade como um conceito do SUS (Sistema Único de Saúde). Deveríamos garantir o acesso a esse item (absorvente) entendendo-o como essencial para a saúde delas”. 

Na UFV, a realidade da pobreza menstrual movimentou o projeto Contamina que promoveu reflexões acerca da menstruação como uma experiência plural e comunitária, uma vez que há um espaço para o compartilhamento mútuo de absorventes. 

Conforme campanhas do projeto, “a menstruação em si é permeada por estigmas, fazendo com que sentimentos de constrangimento sejam comuns nesse período, por existir no imaginário social a errônea ideia de que a menstruação é algo ‘sujo’ ou ‘vergonhoso’, causando consequências para a autoestima ou até mesmo para a participação social das pessoas, fazendo com que elas se isolem durante o ciclo menstrual”.

Como uma de suas iniciativas, no mês julho, o Contamina promove a Campanha Social da Dignidade Menstrual, quando caixinhas com absorventes são colocadas para distribuição gratuita na portaria dos alojamentos e nos banheiros dos principais prédios do Campus da UFV em Viçosa.

Os banheiros da Biblioteca Central e dos pavilhões de aula (PVA e PVB) da UFV são pontos de coleta e distribuição de absorventes
Reprodução: Kedma Muniz

Em junho deste ano, o governo implementou o Programa de Proteção e Promoção da Saúde e Dignidade Menstrual, que define regras de distribuição de absorventes gratuitos em todo Brasil. A distribuição pode acontecer em etapas, conforme a disposição orçamentária e operacional. O público que terá direito ao acesso gratuito deve ter inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico):

  • Estudantes de baixa renda matriculadas na rede pública de ensino (estadual, municipal ou federal)
  • Pessoas que menstruam em situação de rua
  • Pessoas que menstruam em situação de pobreza
  • Pessoas cadastradas no Sistema Penitenciário Brasileiro (Sisdepen) ou que cumpram medidas socioeducativas

Mesmo que a temática já esteja sendo melhor trabalhada, ainda há uma deficiência de políticas públicas capazes de suprir as demandas de uma higiene adequada sem constrangimentos, que abarque a saúde integral dessa população e suprindo, também, outras necessidades, como a disponibilização gratuita de remédios para cólicas intensas e a redução na taxação de impostos nessa categoria de medicação.

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