Hip Hop une, educa e transforma realidades

As batidas do hip hop ecoam pelas ruas de Viçosa. Muito mais que um movimento artístico, ele é símbolo de luta, cultura e resistência, sendo um transformador social, especialmente entre os jovens de periferia

O hip hop é um movimento cultural que surgiu entre as comunidades periféricas dos Estados Unidos na década de 1970. Desde então, exerce grande influência nas mais diversas formas de música, dança, moda e linguagem. Forte representante da cultura das ruas, do povo preto, pobre e periférico, o hip hop é uma forma de resistência, de protesto e de reafirmação identitária. 

No Brasil, o movimento chegou na década de 1980, durante o período da ditadura militar, segundo matéria publicada no portal UOL. Com o tempo, o gênero se popularizou e se difundiu pelo território brasileiro, fortalecendo os movimentos das periferias e enfatizando questões sociais e políticas na luta por respeito às minorias. Com isso, o hip hop foi duramente marginalizado e criminalizado.

No município de Viçosa – MG, a cena do hip hop é registrada desde 1990, com participação especial de jovens da periferia, conforme diz a mestranda em geografia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Verônica Monteiro, que investiga o recorte espacial do movimento. Segundo Monteiro, a pluralidade de expressões artísticas do hip hop contribui para a construção de redes de sociabilidade juvenil no espaço urbano, construindo narrativas sobre sua história, cotidiano, problemas e valores. 

Mais especificamente, o hip hop viçosense surgiu em bairros como Cantinho do Céu, Rebenta Rabicho e Nova Viçosa, conforme conta a mestra em Patrimônio Cultural, Paisagens e Cidadania pela UFV Deise Eclache. A autora constata que os jovens se reuniam em grupos para ensaiar passos de dança. Desses encontros, nasceu o Grupo Impacto, respectivo Stilo Dance, um dos mais antigos grupos de dança do município, que se formou em 1994, por alunos das oficinas de danças urbanas do Centro Experimental de Artes (CEA).

O atual Secretário de Cultura, Patrimônio Histórico, Esportes e Turismo da Prefeitura de Viçosa, Thomas Medeiros, conta que originalmente o CEA foi criado com o intuito de oferecer oficinas gratuitas de diferentes modalidades artísticas para estudantes da rede pública de ensino. Hoje, no entanto, extrapola essa realidade, oferecendo aulas para toda a população de Viçosa.

O diretor artístico, bailarino, coreógrafo, professor licenciado em dança pela UFV e membro do Grupo Impacto desde 2004, Cleison Lana, conta que, quando jovem, participava dos bailes e se arriscava nos passinhos, inspirado por vídeos de break que via em uma fita cassete. Para Cleison, o hip hop e a dança representam mais que uma oportunidade, um sonho. 

O professor e bailarino, Cleison Lana, captura a essência da arte por meio dos movimentos. Reprodução: Gabriela Möller

O bailarino, que iniciou sua carreira no CEA, agora é professor e ressalta o papel transformador da dança ao relembrar a relevância do ensino artístico na vida dos jovens.

“A dança foi importante para mim e acredito que seja também para os meninos. Não só o movimento de dançar, mas o que ele carrega, como a disciplina e outros elementos que contribuem para ver a vida diferente, com outro olhar para  superar as dificuldades. A dança vem com esse papel social e transformador para a vida real.”

O investimento nesta área fez com que Viçosa fosse reconhecida como o polo da dança em Minas Gerais, segundo o Secretário de Cultura. Por conta disso, a cidade promove anualmente o Conexão Hip Hop, um dos principais eventos culturais da região, que fomenta e difunde o hip hop no município e em seu entorno, por meio de uma programação repleta de oficinas, exposições, batalhas de dança, arte e música. 

Com isso, a consolidação do Grupo Impacto de Dança e o desenvolvimento do Centro Experimental de Artes, ao longo dos anos, abriu portas para vários jovens se capacitarem artisticamente e reafirmarem suas expressões culturais. Assim, o hip hop, com sua multiplicidade de manifestações artísticas e uma infinidade de influências, advindas do encontro das vozes das periferias, incentiva a integração, a conscientização e o exercício da cidadania. Para Viçosa, isso vai além do resgate de uma herança cultural da cidade, sendo também, o poder de enxergar na arte, oportunidades para a vida.

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