Meu lugar no mundo: o que é a crise de identidade e como ela afeta a juventude 

Se você já se questionou e se sentiu desconexo sobre quem você é, seus gostos e seu lugar no mundo, possivelmente passou por uma crise de identidade. Embarque com o OutrOlhar nessa jornada de descobertas.

Marcada por questionamentos, incertezas e a busca pelo conhecimento sobre o eu, a crise de identidade é um processo que pode ou não ser doloroso e que aparece, principalmente, em momentos de mudança. Conforme a psicóloga e professora de Psicologia da Univiçosa (Centro Universitário de Viçosa), Érica Peluzio, os jovens, por passar por marcantes transformações – como a transição entre a infância e a juventude – estão mais suscetíveis a experimentar crises identitárias, embora qualquer pessoa possa passar por isso.

O que é identidade?

Para desvendar a crise, é preciso compreender que a identidade é a forma como você se reconhece, é o conjunto de atributos que te caracterizam, tendo ligações profundas com o mundo. Antes mesmo de você nascer, o mundo já te esperava com todas as crenças, regras, imposições e significados, os quais  influenciam na construção das identidades. A professora Érica Peluzio, da  Univiçosa, explica que “há uma dualidade, pois somos moldados pelo mundo e nós moldamos o mundo, à medida que somos nele inseridos e construímos, a partir dele, as nossas vivências e aprendizados”.

Já no campo da Sociologia, de acordo com Tábata Berg, socióloga e pós-doutoranda na Universidade de Brasília (UnB), existem teorias que abordam as “identidades estruturais”, sendo elas mais estáveis, sofrendo poucas modificações ao longo do tempo. Por outro lado, a teoria pós-moderna da década de 1960 entende que as identidades seriam fluidas, construídas de acordo com o contexto do indivíduo. Mas, apesar das diferenças, Tábata explica que ambas as teorias têm em comum a identidade sendo formada pelas posições sociais. “É a sua posição social que condiciona a sua identidade, não existe uma identidade em essência, algo que você traz. Ela está sempre posta em questão, está sempre em jogo e ela está sempre em formação”.

Como surgem as crises de identidade?

Conforme a professora Érica Peluzio, a crise identitária pode ser gerada por diversos fatores, como a falta de autoconhecimento, e podem acontecer com qualquer pessoa, sendo mais comum seu aparecimento entre os jovens. Isso porque, durante a infância, o primeiro grupo de convivência a formar nossa identidade é a família; nosso modo de pensar, ser e agir é pautado no olhar do outro: somos o que dizem que somos.

Até que chega a juventude e… POW! A liberdade e o convívio com novos grupos sociais nos apresentam novos estilos, gostos, crenças e, ao mesmo tempo, nos levam a questionar nossa realidade. É aí que vem a crise identitária, onde imperam dúvidas e reflexões em busca do “eu”: o que eu gosto? Qual é o meu estilo? Quem sou eu?

O jovem está mais suscetível porque é um marco de mudança, um marco de alterações, do desenvolvimento humano. Então é um desencontro para se encontrar, assim como a gente passa por vários encontros até nos encontrarmos ao longo da vida”, esclarece a psicóloga Érica Peluzio.

Estou passando por uma crise. E agora?

Uma forma de identificar se está ou não passando por uma crise de identidade é compreender se algo faz sentido para você, por exemplo, quando o seu estilo de vestir já não te agrada mais, ou quando aquele quarto rosa pintado na infância não mais te representa, e, até mesmo locais que você frequentava, agora causam desconforto.

Do ponto de vista da Psicologia, vivenciar uma crise identitária é algo natural no processo de desenvolvimento humano. Entretanto, ela pode gerar ou não sofrimento, já que a perda da personalidade pode provocar a sensação de vazio, falta de perspetiva e angústia: “pode ser doloroso porque, afinal, você passa uma vida vivendo de uma determinada forma e, de repente, você entende que aquilo já não faz muito sentido”, explica a professora Érica Peluzio. Nesse caso, é importante buscar ajuda profissional para que a crise não se transforme em um transtorno ou patologia.

Lidar com tantas mudanças internas e que impactam as externas não é fácil, mas há estratégias para não se perder nesse caminho. A principal é a psicoterapia, um tratamento realizado por um(a) psicólogo(a), que utiliza técnicas e conhecimentos sobre o ser humano para tratar as questões da mente. Um ambiente acolhedor é fundamental para que você se expresse, fale sobre si mesmo e rearranje seus pensamentos. 

Além disso, outra forma eficaz é o autoconhecimento, ou seja, conhecer a si mesmo, entendendo o que realmente cabe na sua vida e o que não encaixa mais. A psicóloga também recomenda trabalhar a autoestima, pois ela ajuda na formação de uma identidade saudável e positiva, tendo influência “na maneira como nos relacionamos com os outros e na forma como lidamos com situações adversas”. Ambas as abordagens podem ser tratadas na psicoterapia, que segue sendo a principal aliada.

Ademais, a psicóloga e professora Érica Peluzio define o pós-crise como “uma mesma nova pessoa”, já que, por um lado positivo, a crise leva o sujeito a novos ares. Entretanto, ela ressalta que as novas experiências não anulam as antigas, e sim que o indivíduo se vê e se identifica de uma nova forma: 

“É como se despir de roupas velhas e colocar as novas que fazem mais sentido. É se identificar com novas crenças, novos valores, novos grupos, frequentar novos lugares, já não se identificar com aquele grupo de amigos, mas com outro […]. Mas não significa necessariamente, por exemplo, deixar um grupo de amigos. Significa que há uma nova visão sobre o mundo”, explicou.

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