Nova geração se faz presente na política brasileira: bem vinda, Gen Z!

Memes, TikToks e tuitaços são as novas estratégias utilizadas pelas/os jovens da Geração Z para se fazerem presentes na cena política brasileira.

Por Emily Christine e Marcela Aguiar

“Eu fiz Coluni, na UFV, e no meu terceiro ano do Ensino Médio os professores entraram em greve. Como a gente estava no terceiro ano, quase todos os estudantes ficaram muito revoltados com os professores, porque só pensavam em passar no vestibular. Aí fizeram uma assembleia para comunicar os estudantes da decisão. E, dos 150 alunos do terceiro ano, só eu e mais uma colega nos manifestamos em apoio aos professores. Eu tenho um professor que até hoje me lembra disso. Acho que esse foi um marco na minha atuação política”, lembra o historiador, político e ex-professor de história, de Viçosa, Sávio José, descrevendo essa como sua primeira interação direta com a política, no ano de 2001, enquanto ainda era um estudante no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV)

A participação de jovens, como Sávio, que se posiciona politicamente já no Ensino Médio, e tantos outros que tiveram suas vidas permeadas pela política do país, foi decisiva em grandes momentos políticos da história do Brasil. Antes mesmo do  inciso II, §1º do art. 14 da Constituição Federal, que garante o voto facultativo aos cidadãos e cidadãs de 16 e 17 anos de idade, entrar em vigor em 1988, a juventude brasileira já se colocava como um dos grupos sociais de maior movimentação política do país – sendo, por exemplo, uma das forças que se posicionaram contra a Ditadura Militar que vigorou no Brasil de 1964 a 1985.

De acordo com Sávio José, os movimentos jovens e estudantis são cíclicos, e a força de suas atuações depende do contexto social e político em que estão inseridos. Dessa forma, após a repressão da Ditadura e a conquista do voto facultativo, a luta estudantil teve um momento de baixa, afinal, a conquista de direitos básicos não garantidos durante o governo civil militar trouxe a democracia e a liberdade de expressão, garantindo os principais objetivos do movimento naquele momento histórico.

Reprodução: Acervo pessoal

“Com a redemocratização, os historiadores e os cientistas políticos consideram que houve uma diminuição natural do protagonismo juvenil nos primeiros anos pós ditadura, que pode ser facilmente explicado porque, por mais que ainda existissem problemas, a gente já estava, pelo menos, vivendo uma democracia”, cita Sávio.

No entanto, rapidamente o movimento jovem agiria novamente na história da política brasileira com o “Fora Collor”, iniciativa popular ocorrida em 1992 em repressão aos escândalos do governo de Fernando Collor – o primeiro civil eleito por meio do voto direto depois de quase 30 anos -, que resultaria no impeachment do então presidente. A luta contra a corrupção que inspirou o movimento protagonizaria, ainda, outros grandes momentos de atuação jovem na história recente do Brasil, com destaque para as “Jornadas de Junho”, como ficou conhecida a onda de manifestações estudantis contra o aumento das tarifas do transporte público que tomou o país em 2013.

As Jornadas de Junho foram protagonizadas, especialmente, por estudantes universitários pertencentes à geração conhecida como millennial, formada por pessoas nascidas de 1981 a 1995. As manifestações de 2013 configuram, também, a última vez em que o movimento jovem e estudantil brasileiro sairia às ruas, em massa e em proporções nacionais, em prol de lutas políticas. 

A diminuição da atuação nas ruas pode ser confundida com desinteresse político por parte da geração Z. Porém, as rápidas transformações comportamentais e sociais ocorridas nos últimos dez anos, e que tornam o comportamento em áreas como mercado de trabalho e ambiente digital, por exemplo, da nova geração tão controverso, levantam também o questionamento sobre a forma como se faz resistência e política em um mundo cronicamente online.

“Eu acredito que o jeito de militar, de se envolver mudou muito, muito mesmo. Eu acredito que as pessoas participam sim – e eu não sei falar se é mais ou menos -, mas de uma forma diferente. O meio de você conversar com as outras pessoas, de fazer uma mobilização e chamar atenção para uma pauta importante é completamente diferente.”, reflete Sávio. 

Para entender as tendências de comportamento da geração Z em relação à política, a pesquisa “Vem Na Trend 2024”, realizada pelo Instagram em parceria com a Worth Global Style Network (WGSN), conversou com jovens de 16 a 24 anos de idade nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Brasil e Coreia do Sul. De acordo com os resultados, metade dos entrevistados acredita que realizar ativismo político nas redes sociais possui o mesmo impacto que o ato de votar no pleito. 

“Hoje em dia você tem notícias sobre política nas redes sociais, né? Então, a gente acompanha o que está acontecendo no país, quem são os candidatos, pelo Tik Tok, Twitter e Instagram”, diz Maria Clara Pereira, de 17 anos, quando questionada sobre os principais meios de informação que ela utiliza. A estudante do terceiro ano do Ensino Médio, que mora em Belo Horizonte, Minas Gerais, votou pela primeira vez nas eleições presidenciais de 2022, com apenas 16 anos de idade.

“Eu quis votar para exercer o meu direito em um momento muito confuso e desesperador que o Brasil e o mundo passavam, que era a pandemia. Não tinha como eu reclamar e brigar pelo o que rolava no país e não exercer meu papel como cidadã”, explica Maria Clara.

Reprodução: Acervo Pessoal

As eleições de 2022 foram a porta de entrada de milhões de jovens brasileiros na política brasileira. De acordo com análise realizada a partir dos dados eleitorais fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de eleitores com idade de 16 a 20 anos passou de aproximadamente 6,8 milhões em janeiro de 2022 para mais de 9,1 milhões em outubro do mesmo ano, mês em que o eleitorado brasileiro foi às urnas.

Por conta do momento tenso vivido nas esferas sociais, políticas e econômicas do país, e da proximidade na quantidade de intenções de voto entre os candidatos mostrada em pesquisas da época, a participação dos jovens, especialmente aqueles de 16 e 17 anos de idade, tornou-se ainda mais essencial para o eleitorado brasileiro. Entre os esforços do TSE para o incentivo à realização do cadastro eleitoral de jovens de 16 a 18 anos, estiveram diversas campanhas digitais que contaram com a ajuda de celebridades nacionais e fanbases de Kpop.

Uma das campanhas mais marcantes do ano foi o “tuitaço” do dia 16 de março, realizado durante a Semana do Jovem Eleitor 2022. Segundo dados do antigo Twitter (agora X) publicados em plataformas do TSE, mais de 6,8 mil tuítes com esse tema foram publicados, e chegaram às telas de mais de 88 milhões de pessoas. Mais de 4,7 mil usuários do Twitter participaram da campanha.

Para Ana Júlia Gonçalves, de 18 anos,  que mora em São José dos Campos, no estado de São Paulo, e vota pela primeira vez em 2024, a geração Z está muito envolvida na política, especialmente quando o assunto são pautas sociais que, durante muito tempo, foram negligenciadas na política mundial.

“Acho que a minha geração está muito envolvida na política, mais do que talvez se esperasse. Estamos sempre discutindo temas como meio ambiente, igualdade de gênero, direitos LGBTQIA +, educação e saúde”, afirma a jovem.

Reprodução: Acervo Pessoal

Segundo a pesquisa “Vem Na Trend 2024”, a maior parte dos entrevistados expressa grande preocupação com os impactos causados pela humanidade no meio ambiente e já mudou (ou planeja mudar) hábitos alimentares, de moda e de consumo para uma vida mais sustentável. A Gen Z também valoriza muito a percepção individual de questões sociais, ambientais e políticas como parte essencial de uma boa personalidade, de acordo com os dados coletados no estudo. Ser ativo nos memes com críticas sociais inteligentes e engraçadas é um ponto chave, inclusive, para escolher com quem se relacionar, afirmam as/os entrevistadas/os.

Os conflitos e adaptações geracionais são difíceis e essenciais para a construção de uma sociedade inovadora e plural. O fato, portanto, é que a forma com que se faz política está diretamente ligada ao comportamento e expressão social, que, na atualidade, está bastante concentrado no ambiente digital, não apenas para as novas gerações. Sendo assim, é importante e necessário que essas mudanças sejam compreendidas e inseridas como forma de posicionamento válida para a construção de uma participação ativa na política brasileira.

ELEITORES de Emily Christine

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