A época do ano dos grandes descontos também é marcada por perigos para os consumidores. Entenda melhor o que é a Black Friday e como aproveitar a data sem ter dor de cabeça
A época do ano dos grandes descontos também é marcada por perigos para os consumidores. Entenda melhor o que é a Black Friday e como aproveitar a data sem ter dor de cabeça
Por Ana Clara Marques, Antônio Santos e Raabe Miranda
A frase “Quando eu compro o mundo fica melhor; o mundo é melhor. E depois deixa de ser. Aí eu compro outra vez,” citada pela protagonista do romance “Delírios de Consumo de Becky Bloom”, de Sophie Kinsella, reflete a mentalidade de muitos consumidores. Atento a esses “delírios”, o mercado busca formas de incentivar o consumismo e uma delas é a Black Friday, que chegou ao Brasil por volta de 2010. O evento já é uma das grandes datas do comércio brasileiro, mas está, cada vez mais, ganhando má reputação entre as consumidoras e os consumidores, devido a golpes e atos de má-fé de comerciantes.
Traduzida como “Sexta-feira Negra”, a Black Friday originou-se na década de 1960, quando o Departamento de Polícia da Filadélfia utilizou a denominação para descrever o caos causado pelos consumidores na região central da cidade, após o Dia de Ação de Graças. Embora tenha começado como um termo pejorativo relacionado ao tumulto das compras, a Black Friday evoluiu para um evento positivo, atraindo consumidores com grandes ofertas e descontos em diversos produtos.
No entanto, a Black Friday no Brasil tomou outro rumo. Stenio Barros, mestrando e pesquisador na área de economia e padrões de consumo do AKAFans, um coletivo de pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco sobre fanhood, mídias sociais e política do consumo, aponta que
“a Black Friday no Brasil já nasceu como uma Black Fraude, ela não nasceu de fato como uma tentativa como foi nos Estados Unidos que era desovar grande quantidade de produtos estocados para ter uma renovação de produto”.
Foto: Acervo Pessoal
Conforme explica, a Black Fraude é a prática que alguns comércios utilizam para forjar descontos. Os valores dos produtos são aumentados semanas antes da data para, no dia, abaixarem o preço, criando a impressão de que o desconto foi grande. Vale ressaltar que tal prática é proibida no Código de Defesa do Consumidor, se enquadrando no crime de propaganda enganosa.
Além da “Black Fraude”, outros golpes e práticas abusivas emergem durante a Black Friday. De acordo com o site Reclame Aqui, a edição de 2023 registrou o maior volume de reclamações desde a estreia do evento no Brasil. Até as 23h59 da sexta-feira (24) daquele ano, foram contabilizadas 12.141 queixas, um aumento de 30% em relação a 2022 e o maior número desde 2014, que teve 12 mil reclamações. A plataforma classificou a data de 2023 como a “Black Friday do Golpe Virtual”.
Além das reclamações, o período também gerou mais de oito mil consultas no Detector de Site Confiável do Reclame Aqui, onde consumidores buscaram verificar a legitimidade de lojas suspeitas entre a quarta-feira (22) e as 22h de sexta (24). Desses, aproximadamente quatro mil páginas apresentaram alertas para os consumidores.
Infográfico com estatísticas da Black Friday 2023 / Arte: Raabe Miranda / Fonte: site Reclame Aqui
Stenio Barros, pesquisador em Cultura de Consumo do coletivo de pesquisa AKAFans, destaca a importância de utilizar páginas como o Reclame Aqui para avaliar a reputação de empresas desconhecidas. Ele explica que essas plataformas permitem ao consumidor verificar não só as reclamações, mas também como as empresas respondem a elas, o que pode indicar seu nível de comprometimento com a satisfação do cliente. Barros também recomenda uma pesquisa mais abrangente, incluindo o monitoramento de redes sociais e outros sites de avaliação, para garantir que as compras, especialmente durante eventos como a Black Friday, sejam feitas de maneira segura e consciente.
O professor associado da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e especialista em compras e consumo, Alberto Guerra, alerta sobre o prazer induzido pelo comércio na Black Friday, que impulsiona o desejo de realizar compras. Guerra explica que os comerciantes agem de duas maneiras de modo a atrair o consumidor; oferecem o produto utilitário, que é realmente da necessidade do indivíduo, como também o produto de desejo, algo não tão necessário, mas cuja vontade de comprar busca apenas satisfazer um prazer. Essa é uma estratégia aplicada principalmente na Black Friday, pois este é um momento que desperta a atenção e o anseio do consumidor em comprar, tanto no e-commerce como nas lojas físicas.
Para não se deixar levar por esses desejos, os especialistas ouvidos pelo OutrOlhar ressaltam a importância de comprar com inteligência, realizando uma pesquisa prévia para comparar preços, não só entre as lojas, mas o mais importante, os preços praticados entre a Black Friday e outras datas do ano. Atualmente, existem diversas ferramentas por meio das quais o consumidor pode ver o histórico do preço do produto para saber se aquilo é de fato um desconto ou o preço padrão, assim não cai na “Black Fraude”.
Segundo Guerra “A Black Friday não é ‘preço de banana’, é um preço de oportunidade melhor do que o de outras épocas do ano, mas ainda assim você não vai comprar uma bolsa da Chanel por 200 reais. Quando vir ofertas como essa, pode fugir que é roubada”.
Foto: Acervo Pessoal
De acordo com dados da Neotrust, a Black Friday de 2023 registrou uma queda no faturamento de 15% em relação ao ano anterior, e o número total de pedidos também teve queda de 17,6%. Apesar disso, as expectativas para 2024, conforme um estudo da plataforma de marketing Haus, sugerem que o faturamento geral deve crescer 10%, impulsionado por um aumento de 14% no número de pedidos. Essa combinação de dados mostra que, apesar dos desafios enfrentados em 2023, a Black Friday continua a ser uma data importante para o comércio brasileiro.
A Black Friday deste ano está programada para o dia 29 de novembro e como é comum aqui no Brasil, algumas lojas podem estender as promoções, criando eventos como a “Black Novembro” ou a Cyber Monday, focada em aparelhos tecnológicos. Independentemente se você deixar para comprar só na sexta ou em outro dia de novembro, não se esqueça das nossas recomendações.
