Corrida ganha espaço com a ascensão de influenciadores fitness nas redes

Modalidade esportiva pode ser uma alternativa de exercício para a juventude

O cenário das atividades físicas tem passado por uma transformação notável, de acordo com dados da Tickets Sports, maior plataforma de venda de inscrições para eventos esportivos no Brasil, em 2022 foram realizadas 1.181 corridas em todo o país. Já em 2023, esse número aumentou para 1.421, representando um crescimento de 20%.  Em grande parte, esse impulso acontece pelas redes sociais, onde se destacam os influenciadores fitness, pessoas que compartilham suas rotinas de treino e dicas de saúde e influenciam os hábitos de seus seguidores. 

Segundo levantamento feito pelo Strava, aplicativo que combina o rastreamento de exercícios físicos com a interação dos integrantes da comunidade de atletas e que atualmente conta com mais de 120 milhões de usuários pelo mundo, a corrida foi o esporte mais praticado na plataforma em 2023. Além da popularidade, ela também se destaca por sua facilidade. 

“A corrida por si só já é um fenômeno social importante. É uma das atividades físicas mais simples, porque você não precisa de ninguém do seu lado, é diferente de jogar uma partida de futebol, de basquete, que é preciso combinar com outras pessoas que têm o mesmo horário para poder fazer. O tipo de equipamento, é um equipamento muito simples, que é um par de tênis e uma roupa básica para correr” explica o professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa e especialista em fisiologia do esporte, João Marins. 

Marins é também um dos organizadores da Meia Maratona UFV, cuja segunda edição foi realizada em 2024, com aumento de mais de 300 corredores em relação ao ano anterior. Marins acredita que as redes sociais digitais desempenharam um papel importante nesse aumento. “O Instagram teve um impacto midiático absurdo em relação à divulgação da prova do ano passado. Nós estamos falando, assim, de milhares e milhares de acessos e curtidas. E isso tem um efeito, eu fiquei até surpreso, do efeito multiplicador e o impacto midiático que aconteceu”, comenta.

Nas redes sociais, as principais hashtags relacionadas a corrida acumulam milhões de postagens. Uma grande popularidade, que pode ser entendida a partir do relato de quem a vivencia. É nesse quesito que Gabi Güther, Paula Oliveira e Laura Bomtempo são especialistas. As três corredoras produzem conteúdo fitness relacionado a corrida para as redes sociais. 

Gabi começou a correr em 2016 por influência de seus pais que já praticavam o esporte e tentavam levar a filha com eles. No começo de tudo, ela enfrentou alguns desafios para se manter na prática. “Como não tinha muita gente da mesma idade que eu, eu não tinha muita motivação e nem me sentia pertencente aos grupos”, conta. 

Mas foi em 2018 que tudo mudou. Em uma maratona de revezamento, montou um grupo de cinco amigas para competir e, a partir disso, se apaixonou pelo esporte. Em 2022, começou a produzir conteúdo relacionado à prática e atualmente acumula mais de 150 mil seguidores. Gabi revela que já recebeu diversos relatos de seguidores que começaram a praticar corrida por conta dos conteúdos que ela produz. “As redes sociais têm grande impacto na motivação das pessoas para correr e querer participar de eventos e se tornar parte de alguma comunidade”, explica a influenciadora. 

Essa motivação também surge de maneira orgânica nas redes. Paula Oliveira começou a correr para melhorar sua saúde mental, encontrava no esporte a possibilidade de descarregar seus pensamentos. Suas publicações nas redes eram espontâneas, compartilhava sua rotina saudável sem pensar no impacto que estava gerando, até observar uma resposta positiva de quem a acompanhava: “Eu fui postando mais como uma forma de engajar o meu perfil mesmo, só que acabei tendo uma resposta boa das pessoas, o que eu não esperava. Muita gente me mandava mensagem falando que estava gostando, que estava se sentindo influenciado, que começou a correr por minha causa”, conta.

Após ver a influência que estava gerando por conta de uma prática que havia mudado sua vida de maneira positiva, Paula passou a publicar regularmente posts relacionados ao esporte, e considera que o aumento de praticantes da modalidade está diretamente interligado a esse tipo de conteúdo. “A gente fica ali o tempo inteiro pendurado no celular vendo reels, vendo postagem de outra pessoa e acaba que os influenciadores digitais tão aí literalmente pra isso: influenciar”, opina. 

Essas publicações que inundam as redes sociais geram um impacto até mesmo em quem já é praticante da modalidade e que, inclusive, produz conteúdo sobre ele. É o caso de Laura Bomtempo, influenciadora fitness. “Até hoje sou um pouco influenciada por esse tipo de conteúdo, sabe? Gosto de acompanhar e acho muito legal mesmo”, revela. 

Mas o início de Laura no esporte veio de maneira desconectada, foi por influência de sua mãe, que começou a correr. As postagens de conteúdo saudável começaram com conteúdos de academia e dieta e, após observar que seus seguidores gostam dessas publicações, passou a compartilhar mais ainda e a divulgar, principalmente, uma de suas maiores motivações: a corrida. 

“A corrida é muito boa, por exemplo, pra gente acreditar em nós mesmas. Porque a gente acha que não aguenta correr aquele tanto de quilômetros, ou naquela velocidade, e quando vê a gente consegue, entendeu? É muito bom”, conta a influenciadora. 

São inúmeros os impactos positivos gerados pela prática da corrida, tanto para a saúde física, quanto para a mental. Mas, como todo esporte, é necessário alguns cuidados para evitar lesões, e esse cuidado deve ser redobrado ao ter acesso a tantos conteúdos relacionados à prática. 

O professor João Marins destaca a importância de selecionar conteúdos de qualidade para se informar, tendo uma diferenciação entre publicações que buscam motivar e publicações que buscam ensinar. No segundo caso, é necessário encontrar profissionais da área. Na opinião do professor essas dicas e ensinamentos devem vir de um especialista. “Quando isso é postado por pessoas que não tem conhecimento, isso pode ser um risco. Porque as orientações podem ser inadequadas e as pessoas, infelizmente, isso de maneira global, acreditam que sempre é uma verdade absoluta tudo que sai na internet, quando na realidade não, tem que ver se a fonte é confiável”, alerta. Ele ainda reforça que cada pessoa tem uma necessidade diferente e que o treinamento requer um processo de individualização.

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