A vida editável cria máscaras e faz as pessoas, em especial jovens, se deslocarem – ou “deslogarem” – da vida real, o que, consequentemente, gera baixa autoestima, carência e depressão, entre outros problemas
-24 de outubro de 2024
A vida editável cria máscaras e faz as pessoas, em especial jovens, se deslocarem – ou “deslogarem” – da vida real, o que, consequentemente, gera baixa autoestima, carência e depressão, entre outros problemas
Por
Robert Rodrigues
O Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais no mundo, segundo pesquisa realizada pela empresa Comscore, publicada em O Globo. Realizada em 2022, a pesquisa constatou que o YouTube, o Facebook e o Instagram são as redes sociais digitais mais utilizadas. Duas dessas redes sociais permitem a divulgação da própria vida pessoal e são utilizadas como uma espécie de vitrine do perfil virtual das pessoas.
O perfil virtual se torna a representação da pessoa no mundo digital, que se relaciona com outros perfis, formando uma rede de comunicação, ou seja, várias pessoas (perfis) interagindo entre si. Todas tentam controlar e decidir o que será postado, quem irá ver, o que irão curtir, comentar e compartilhar, submetendo-se às regras específicas de cada rede e aos algoritmos que ditam a relevância e o alcance de cada postagem.
Nesse sentido, conforme ressalta a pesquisadora e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Paula Sibilia, a vida se tornou um fenômeno editável, ou seja, a partir do momento em que algo é postado nas redes sociais, cria-se um recorte da vida real, selecionado para ser exibido e julgado pelas pessoas que seguem aquele perfil.
Assim, o ciberespaço permite a criação de uma máscara que todos tentam vestir, obedecendo a determinados padrões com a finalidade de exibir para o outro uma realidade perfeita e, consequentemente, obter likes. Afinal, são os likes, compartilhamentos e comentários que conferem o reconhecimento e a legitimidade a essa existência virtual. Portanto, o que é exibido on-line nem sempre representa a realidade ou trata-se de uma realidade fragmentada e alterada para parecer positiva ao olhar alheio.
Além disso, a comparação entre essas realidades representadas leva, a quem vê e curte, a necessidade de performar a perfeição, o que pode elevar o risco de depressão, sobretudo em meninas, afetando diretamente a autoestima, conforme estudo realizado pela University College London, em 2019. Isso se deve ao fato de que ao se deparar com padrões inalcançáveis exibidos nas redes sociais digitais, as pessoas trazem para a realidade a percepção de que a vida do outro é sempre melhor, gerando sensações negativas que contribuem para um aumento da autocobrança, da desmotivação e da autodepreciação, conforme artigo divulgado por especialistas, no site Unimed Campinas.
Já se sabe, por meio de diferentes estudos, que a dependência das redes sociais é uma realidade cada vez mais presente, que leva adolescentes com baixa autoestima, insatisfação pessoal, depressão e carência a buscarem preencher espaços com likes. O estar a todo tempo conectado resulta em um deslocamento do que é real, gerando consequências preocupantes para as pessoas e, especialmente, para os adolescentes. Entre elas, conforme a pesquisadora e comunicóloga da Universidade Federal do Ceará, Thays Soares Lima, está a fuga da realidade e a construção de uma imagem irreal, pois, conforme ressalta, viver em sociedade exige muito mais do que uma máscara criada em um ambiente virtual.
Um algoritmo é um conjunto de passos ou ações para atingir uma meta. Por meio de dados recebidos (input) são produzidos resultados (output) seguindo determinados passos para o alcance de diferentes metas no ciberespaço. Nas redes sociais digitais, o algoritmo busca personalizar a experiência do/a usuário/a, exibindo posts e anúncios que sejam do seu interesse. Essa personalização é feita a partir das informações que ele/a posta a seu respeito nas redes sociais, dos sites que visita e de suas diferentes interações no mundo digital - são esses os inputs que direcionam os passos e levam aos outputs, ou seja, aos resultados na Internet. Assim, por meio dessa matemática, os algoritmos das plataformas sociais determinam quais posts devem ser mostrados para mais ou menos pessoas. Eles ordenam os posts de um feed, baseados no nível de relevância daquele conteúdo para cada usuário e, assim, levam à formação de bolhas na Internet, ou seja, conduzem a informações, questões e buscas sempre relacionadas aos inputs oferecidos rotineiramente pelo/a usuário/a. Deve-se sempre estar atento/a à essa inteligência que busca resultados nem sempre claros e/ou transparentes ao/à usuário/a.