Thomas Medeiros, mais conhecido como Bulldog, conta sua história como músico, produtor musical e secretário de cultura, além das suas vivências como baixista e um dos fundadores da banda Rasta Joint.
Cidadão cultural
“A música realmente me transformou e me apresentou uma forma de expressar, comunicar, interagir com os outros e ser notado”
Thomas Medeiros
Autodenominado cidadão cultural, desde criança Thomas recebeu forte influência de seus pais e padrasto. Ele nasceu em São Paulo, mas aos quatro anos de idade foi para o Rio de Janeiro com sua família. Aos 13 anos, ingressou como baixista em uma banda da escola em que estudava. Aos 17 anos, começou a ser influenciado pelo reggae quando trabalhava em camelôs no Rio de Janeiro.
Buscando por novas experiências de vida, em 1991, Bulldog resolveu cursar Engenharia Florestal na Universidade Federal de Viçosa. Nesse momento, conheceu várias bandas em Viçosa. Sua jornada musical na cidade começou como baixista da banda de punk rock Micróbios e Afins. Bulldog ainda relata que participou de mais de 25 bandas, dentre elas o Rasta Joint.
Thomas conta que sempre curtiu reggae e, já em Viçosa, tinha dois amigos cariocas, um baterista e um guitarrista, que também desejavam construir uma banda. Dessa forma, fundaram o Rasta Joint, que no início mesclava reggae com soul.
Rasta Joint, um agrupamento de raças
Segundo Bulldog, o nome Rasta Joint mistura a ideia de agrupamento de raças com as siglas RJ, que representam os cariocas do grupo. A banda foi bem aceita pelas repúblicas da cidade e, logo, encontraram um vocalista muito carismático e talentoso. “A gente intuiu que ele seria um dos melhores intérpretes de reggae do Brasil”, disse Thomas. Aos poucos, o Rasta Joint foi se tornando uma comunidade e os músicos se tornaram amigos.
Rasta Joint e Tribo de Jah
O sucesso do Rasta Joint foi tão expressivo que criaram um vínculo com a Tribo de Jah, uma das maiores bandas do reggae brasileiro. O primeiro contato ocorreu por iniciativa do Bulldog, como ele explica:
“Criei um projeto no galpão e comecei a produzir um projeto chamado Banana Reggae, e aí a gente começou a trazer nomes do reggae para Viçosa para tocar aqui, e a primeira banda que eu trouxe foi a Tribo de Jah do Maranhão. Nisso a gente se conheceu, a gente era muito fã. Então, a gente fez dois dias de shows, sexta e sábado. A gente abriu num dia e eles abriram no outro.”
Thomas Medeiros
Os integrantes da Tribo de Jah ficaram surpresos com uma banda de uma pequena cidade do interior de Minas com tanto conhecimento e expertise em reggae. Mantiveram contato e quando surgiu a oportunidade, chamaram o Rasta Joint para abrir um show em São Paulo.
“Na semana seguinte eles estavam lançando o CD Reggae Blues em São Paulo, no picadeiro de um circo para mais três mil pessoas e falaram: vem abrir o show da gente[…]. O público não acreditou no nosso show, no carisma do nosso vocalista e daí nasceu uma parceria que a gente começou a fazer turnê junto por outros estados. A gente começou a rodar juntos, ser amigos, ter participação em disco, ter participação do baixista da Tribo de Jah no nosso primeiro e único disco.[…]É uma amizade que a gente até hoje se fala e tem muito carinho e respeito por eles. ”
Apesar do sucesso, a dinâmica universitária de Viçosa começou a gerar baixas no Rasta Joint. Seus integrantes se formaram, constituíram família e cada um foi para um canto.
Secretário Cultural
Nesse vai e vem, Bulldog acabou ficando. Em 1998 passou no concurso da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Viçosa como assistente administrativo.
“Eu entrei para a Secretaria de Cultura em mais de 2000 como efetivo, com o cargo de assistente administrativo, mas eu já tinha um expertise tão grande na cultura, tantos movimentos, tanta coisa, que eu propus ao então Secretário de Cultura, Marcelo Andrade, que ao invés de ficar trabalhando como assistente administrativo, que eu trabalhasse com projetos culturais[…]. Desde então, estou na Secretaria de Cultura. De 2000 a 2017, só trabalhei com projetos de arte educação, como parceria da prefeitura no centro experimental de artes como oficineiro, fundei o grupo perifonia, o movimento hip hop, oficinas de audiovisual, direção artística de mostras, entre outras coisas.”
Thomas Medeiros
Durante esse período, se destacam projetos como o Perifonia, com intuito de trabalhar a música como agente transformador da vida de jovens das periferias. Entre 2005 e 2017, mais de 300 jovens passaram pelo projeto, que conta com mais de 100 apresentações no currículo.
Outro destaque é o Projeto Arte Educação Digital, fruto de uma parceria entre Estúdio Horizontes, Humanizarte e O Instituto. O resultado foi uma série de animações stop-motion, que você pode conferir na playlist à seguir:
Estúdio Horizontes
Nesse período, Bulldog também começou a se aventurar mais seriamente no ramo de produção musical. Em 2000 ele abriu um home studio que funcionou até 2005, quando fundou o estúdio Horizontes. Em 2020, seu estúdio, que já estava desgastado devido ao surgimento de novos concorrentes e à mudança na indústria musical, fechou de vez com a pandemia.
“Sempre tive o sonho de ter um estúdio. Eu já tinha até produzido algumas fitas demo. A própria fita demo do Rasta Joint foi produzida em 94, onde eu debutei na produção musical em estúdio. […] Em 2000, montei meu home studio e até 2005 eu fiquei no meu estúdio em casa. De 2005 até o ano passado eu montei o estúdio Horizontes no centro da cidade, naquele prédio no calçadinho em frente à lanchonete Quero Mais e aí eu dediquei muita a produção musical, a banda terminou e eu fui levando essa carreira de engenheiro de som.(..) Fechei em 2020 por conta da pandemia, o mercado fonográfico mudou muito”
Thomas Medeiros
Em sua trajetória, Thomas, ou Bulldog, trabalhou em diversas frentes culturais e se empenhou na difusão da cultura na cidade de Viçosa, merecendo o simbólico título de “cidadão cultural”.