quinta-feira, novembro 21

A brincadeira dançante no baile do Viçosa Atlético Clube

Por Breno Guimarães.

Houve um tempo em que uma festa em Viçosa geraria prejuízos se o objetivo fosse vender bebidas, porque as pessoas estavam ocupadas demais dançando.

Quem afirma é Milton Pinheiro Júnior, conhecido como DJ Juninho, uma das figuras responsáveis por definir a trilha sonora dos bailes do Viçosa Atlético Clube em diversas oportunidades durante a segunda metade da década de 1970 até o início dos anos 90. Por mais de 15 anos, essa “brincadeira dançante”, como ainda é lembrada, consolidou-se como um dos principais eventos dos fins de semana na cidade.

As origens do baile

Antes da criação do evento que reunia pessoas de toda a cidade no clube, ainda nos anos 1970, pequenos grupos promoviam festas particulares mais modestas nos bairros. Segundo Milton Júnior, nesta fase, os irmãos Paulo e João Salgado, moradores de Viçosa, fundaram os eventos denominados Som Fly, que ocorriam em casas e garagens da cidade.

O sucesso das festas pontuais do Som Fly garantiu as condições para que Paulo e João Salgado adquirissem equipamentos mais robustos e modernos para que pudessem organizar bailes em espaços com públicos maiores. 

Com uma estrutura de som adequada, Paulo e João Salgado firmaram a parceria com o Viçosa Atlético Clube para que as festas de maior porte ocorressem a partir de 1975.

Até 1985, durante os anos de Regime Militar, os eventos aconteciam aos domingos, terminando às 22 horas para cumprir as leis vigentes. 

Os mais de 15 anos de Baile

DJ Eduardo Laureano operando equipamento sonoro de fita K7.

Durante o período de mais de 15 anos de atividade, os bailes reuniram uma média de 600 pessoas aos domingos no Clube Atlético Viçosa, mobilizadas de vários bairros da cidade e de diferentes faixas etárias. Milton Júnior conta que começou sua trajetória de DJ no clube a partir dos anos 1980, quando tinha apenas 14 anos. 

Os eventos cruzaram as fases do vinil e das fitas K7 e vivenciaram a transição para os CDs. Assim como as mídias, os gêneros musicais passaram por transformações na trajetória do espaço. Nos primeiros anos, os bailes eram animados por músicas temas de novelas da época e até “Ilariê”, canção da Xuxa, foi um dos sucessos que embalou as noites no clube. 

Já nos anos 1980, as música predominantes pertenciam ao Flash House — subgênero da House Music e expressão usada para definir músicas do gênero que se tornaram sucessos comerciais — que, em conjunto com músicas do estilo soul-funk melódico, inspiravam grupos de dança a elaborarem os próprios passinhos.

Milton Júnior, o DJ Juninho, e o seu sobrinho Igor Pinheiro — que mais tarde também se tornou DJ — juntos aos equipamentos de som.

Dj Juninho conta que, “durante a fase do passinho, era comum que o bar do evento conseguisse vender apenas uma caixa de cerveja”, pois as centenas de pessoas presentes ficavam entretidas especialmente com as danças e era comum que nem mesmo se engajassem em conversas. A razão de existir do baile era a dança.

Entre o final dos anos 1980 e início de 1990, as noites de domingo no clube passaram a ser animadas especialmente por funk brasileiro. Sob o novo estilo, os grupos de dança conduziam os passos e organizavam os “trenzinhos”.  

Nesta época, DJ Juninho e DJ Flavinho criaram o grupo Black and White e dividiam a responsabilidade de manter o público dançando. Enquanto o primeiro conduzia trilhas de funk melódico, o segundo desenvolvia montagens — medleys com trechos de músicas em sequência. 

Grupos e concursos de dança animavam as festas

No evento onde a dança era a principal marca, logo surgiram concursos para eleger os melhores grupos da brincadeira dançante.

Segundo Ailton Vilar, membro de um dos grupos que frequentava o evento, o Tufão 4, “o grupo se encontrava em um prédio com telhado em formato de asa delta na UFV e levava rádios a pilha para ensaiar as coreografias”. Ele também conta que “dançavam o funk melody, um funk que não falava palavrão, principalmente Tony Garcia e Claudinho e Bochecha”.

Os grupos rivais nas disputas de dança, por vezes, tinha algumas tensões, mas Ailton afirma que resolviam as desavenças dançando: “A gente se preparava com roupas e sapatos iguais para uma competição amigável. Um grupo respeitava o outro, batiam palma quando a apresentação era boa, tinham jurados. Era muito legal”.

Brigas recorrentes e concorrência definiram o fim da festa

Seguranças da portaria do Atlético Viçosa Clube.

Milton Júnior relata que, a partir do início dos anos 1990, no entanto, não eram raras brigas que se iniciavam ainda durante os bailes, pois, com o passar do tempo, grupos e pessoas de diferentes bairros acumularam desgastes que deram uma tônica hostil aos eventos e provocaram esvaziamentos. O DJ afirma que, em algumas oportunidades, ia trabalhar com “as pernas tremendo”.

Na mesma época, eventos concorrentes também passaram a conquistar e fragmentar o público, embora, durante toda a trajetória dos bailes, o clube tenha convivido com concorrência de outros espaços que organizavam eventos com propostas similares. 

O legado do baile

Embora encerrado no início dos anos 90, o baile do Viçosa Atlético Clube segue na memória daqueles que o frequentaram como um espaço de recreação, diversão e especialmente de muita dança, imortalizado como a “brincadeira dançante.”

3 Comments

    • Elizabeth Teixeira

      Sinto uma saudade muito grande desses bailes no Atlético, foi lá que comecei o meu primeiro e único namoro. Hoje casada marido, tenho 2 filhos e 3 netos. Nossa família começou ali, adorávamos!

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