quinta-feira, novembro 21

DJs mantêm viva a cultura do vinil em Viçosa

Por Francisco Rodello e Melissa Castro

O vinil ou LP (long play) foi o primeiro formato de distribuição em massa de música. Teve seu auge na década de 70. Porém, com o surgimento dos CDs nos anos 90, o LP caiu em desuso. Entretanto, alguns entusiastas preservaram essa tradição. Nas últimas décadas, algumas pessoas continuaram fiéis a esse formato, sobretudo os DJs, que acreditam que o vinil confere uma experiência artístico-musical mais completa. Em Viçosa, essa cultura se manteve por esses simpatizantes. Conversamos com três personalidades que movimentam o cenário de discos na cidade.

DJ Pelim

Raphael “DJ Pelim” Araújo ou simplesmente “Pelim”, viçosense, natural do bairro Bom Jesus, foi introduzido desde cedo na cultura dos LPs, por meio de familiares que tinham coleções em casa. Nos anos 90, eles começaram a se desfazer de seus discos e Pelim viu a oportunidade de iniciar sua coleção. Além de herdar de sua família, ele conta que nos anos 90 com a perda de interesse no vinil, essa mídia tornou-se mais acessível e, por isso, ele conseguiu adquirir muitos exemplares nessa época.

DJ Pelin garimpando compactos ou compact disc discos menores com rotações de 45rpm Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
DJ Pelim à esquerda ao lado de Pedro Paiva integrante do Coletivo Vinil é Arte, coletivo que segundo Pelim ajudou muito nessa cultura em suas vinda à Viçosa Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Em 2007, Pelim se mudou para os Estados Unidos e começou a se interessar pela discotecagem, isto é, realizar apresentações para o público. Ele conta que encontrou e trocou muitos vinis, devido ao baixo preço e alta oferta do mercado. O DJ levou muitos discos brasileiros para fora e realizava trocas em lojas e espaços que frequentava no EUA.

Ao voltar para o Brasil com uma coleção mais robusta e equipamentos para discotecagem, ele montou uma identidade musical para suas apresentações voltada sobretudo para o hip-hop e o soul.

O DJ se diz um desapegado de seus discos, tendo uma coleção girando constantemente a partir do que está tocando, pois gosta de ter seus vinis para toca-lós e vive trocando sua coleção em outros do seu interesse.

DJ Breno Longhi tocando na Casa Pixinga
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

DJ Breno Longhi

O paulista Breno Longhi, natural de Sorocaba – São Paulo, chegou em Viçosa há cerca de 8 anos, em 2014. É outra personalidade entusiasta dos vinis desde muito cedo.

Aos 4 anos de idade adquiriu seu primeiro LP, desde então não parou mais. Ele conta que aproveitou a mesma oportunidade que Pelim, pois nos anos 90 encontrou vinis vendidos em feiras e lojas a preços mais acessíveis e populares, como em promoções de 3 discos por 10 reais. Hoje, a coleção de Breno é baseada principalmente em Bossa Nova, Jazz, Rock, Hip Hop, incluindo músicas contemporâneas.

O DJ possui um programa de rádio na Universitária 100,7 FM: o “Esquisito Rádio Clube”. Tradicionalmente veiculado nas noites de segunda, é um programa que apresenta diversos tipos de música e gêneros do mundo inteiro, apelidado de “esquisito”, devido a suas peculiaridades musicais.

Ele conta que teve essa oportunidade quando foi apresentado à professora do Departamento de Comunicação Social, Kátia Fraga, que na época coordenava a Rádio Universitária. Amigos de Breno sugeriram que ele fizesse um programa para a rádio e Kátia mostrou que havia disponibilidade na grade para ele desenvolver o projeto. No início, o que era apenas uma ideia se tornou realidade e o “Esquisito Rádio Clube” nasceu. Atualmente a programação está em hiato, porém edições realizadas estão disponíveis no Mixcloud.

A partir de um ouvinte do programa, Breno conheceu outros apreciadores da cultura dos LPs de Viçosa, montando um grupo no WhatsApp que conta com 43 membros, que trocam discos e, eventualmente, realizam alguns eventos.

DJ Breno Longhi Junrto com DJ Niltin na Casa Pixinga Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

DJ Niltin

DJ Niltin segurando o disco do grupo de rap RZO “Evolução é uma coisa”
Foto Reprodução/Arquivo pessoal

Nilton “Dj Niltin” Rodrigues, natural de Viçosa, não se considera um colecionador de discos, pois não segue os mesmos objetivos de colecionadores tradicionais, que completam coleções de artistas ou gêneros específicos. Ele afirma que possui apenas cópias de obras de ritmos que gosta, como rock e hip-hop.

Em 1989, ganhou seu primeiro exemplar, um vinil da dupla sertaneja “Gean e Giovani” de seu pai. Contudo não simpatizava tanto com esse gênero musical. Dois anos depois, perto de completar 6 anos, ganhou um disco da banda de rock Scorpions Blackout, o qual é fiel até hoje.

Ainda nos anos 90, conheceu várias pessoas no meio do Rap, entrou para a Escola Experimental de Artes, de Viçosa. Quando iniciaram as aulas de DJ oferecidas pela instituição, ele começou a se interessar pela prática da discotecagem. A partir disso, conheceu os integrantes do NV Rap, grupo cultural oriundo de Nova Viçosa e outras pessoas envolvidas na cultura dos vinis.

Em 2022, Niltin e dois amigos montaram um espaço cultural no centro de Viçosa chamado Casa Pixinga, espaço voltado para apresentações musicais e gastronomia. Além de promover feiras de vinis e discotecagem, o local também realiza apresentações de diversas bandas e gêneros, como samba, Música Popular Brasileira (MPB), jazz, rock entre outros.


Uma cidade em alta fidelidade

Viçosa tem um cenário cultural rico e diverso. O charme dos discos de vinis existe justamente porque essa cultura fornece diversidade em um formato só. Utilizando LPs, os DJs têm muito mais liberdade para tocarem o que gostam e pesquisam. Como diz o DJ Breno, esse cenário ocorre na casa das pessoas, em espaços mais privados, ou seja, no underground. Porém, isso não é nenhum impedimento para que ela permaneça viva e com muitos interessados pela cidade.

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