Por Renata Nunes e Vitória Maria
O Bloco é um grupo de percussão que surgiu em Viçosa no ano de 2006 como reflexo e crescimento da popularidade do maracatu no território nacional. Reunindo percussionistas de toda a comunidade acadêmica e viçosense, o grupo conta hoje com 20 membros que se apresentam principalmente em eventos musicais e religiosos da região.
O Maracatu é uma das manifestações culturais afro-brasileiras mais populares do nordeste, e teve sua origem no Pernambuco do século XVIII. Sua aparição descende dos reinados do Congo praticados no período colonial e é marcada pela religiosidade do Candomblé Nagô, que se manifesta em suas músicas. É possível afirmar que o Maracatu é a parte “profana” da religião, e reflete as cerimônias que nela acontecem.
As nações de Maracatu, como são chamados os grupos tradicionais, são muitas vezes centenários e continuam preservando nos dias de hoje a tradição do Maracatu, que se espalhou para as outras regiões do país.
Surgimento
No início dos anos 2000 o terapeuta Rafael Wolak e até então estudante de Pedagogia na UFV, começou a reunir pessoas a fim de formar um grupo de estudos das percussões do Maracatu em Viçosa. Em 2003, surgiu o primeiro grupo de percussão, chamado Nação Romão, que existiu até 2004. Apesar do encerramento das atividades, muitos membros continuaram se reunindo, até que em 2006 foi fundado O Bloco, sob a liderança de Mateus Balao.
Apesar da rotatividade que o ambiente universitário traz, O Bloco tem conseguido há 16 anos se manter em atividade. Isso se deve à dedicação dos membros mais antigos, alguns dos quais ainda participam do grupo, e da abertura a novos membros. Qualquer pessoa que se interessar pode participar das oficinas, ministradas por alguns membros, onde podem aprender o essencial dos instrumentos e dos ritmos. Se os participantes prosseguirem nas oficinas, são convidados a se tornarem membros d’O Bloco.
Principais atividades
Além dos ensaios e oficinas, O Bloco também participa de diversos festejos. Desde 2006, é parceiro da banda de Congado José Lúcio Rocha, da comunidade de Airões, em Viçosa. Juntos, já participaram da festa de Nossa Senhora do Rosário e outros eventos da região. Em razão do contato com o congado, o grupo também desenvolveu parcerias com grupos de catolicismo popular, como a paróquia de Nossa Senhora de Fátima, onde já participaram da festa da padroeira.
O grupo também já puxou a marcha Nico Lopes por diversas vezes, a convite do DCE da UFV. De forma coletiva, os membros acolhem cada convite e discutem a possibilidade de participarem.
Lei Aldir Blanc
A Lei 14.017/2020 ou Lei Aldir Blanc, foi criada no ano de 2020 como método de auxílio emergencial para o setor cultural brasileiro, em decorrência da pandemia do Covid-19. Em Viçosa, o benefício foi conquistado por intermédio de Thomas Medeiros, responsável pela secretaria de Cultura, Patrimônio Histórico e Esportes na época.
Ao todo, 144 projetos da cidade foram contemplados nos três editais abertos em novembro do mesmo ano. Entre os contemplados estava O Bloco Viçosa.
A musicista e pedagoga Adê Ribeiro, que também faz parte do grupo de percussão, conta que o recurso da Lei Aldir Blanc foi muito importante para a continuação das atividades durante a pandemia. O incentivo da lei possibilitou que mesmo em um contexto pandêmico, eles pudessem produzir lives e oficinas, contando com a participação de importantes nomes do maracatu pernambucano e outros artistas da região:
Apesar do incentivo que contribuiu para que as atividades do grupo não ficassem paralisadas durante a pandemia, Adê ressalta que ainda sente a necessidade de mais políticas públicas de acesso à cultura na cidade:
“O grupo ainda é precário se tratando de apoio financeiro. Temos uma contribuição mensal dos integrantes que ajuda na manutenção dos instrumentos, mas a gente acha que ainda está precário, precisamos muito desse suporte. Estamos nesse diálogo para encontrar outras formas de fomento para o grupo. Precisamos nos apropriar mais disso para podermos estabelecer uma estrutura melhor”.
Adê Ribeiro
A organização
Atualmente, o grupo composto por 20 integrantes atua sem fins lucrativos, mas conta com uma contribuição voluntária mensal dos membros participantes, para custear as despesas e manutenção dos instrumentos.
Os ensaios ocorrem sempre aos domingos à tarde na Casa da Paz, localizada na Vila Gianetti da UFV ou ao lado do Centro de Vivência, também na universidade. Adê Ribeiro explica uma das razões para os ensaios abertos:
“Sempre há muitas famílias por ali, então acaba sendo uma forma de divulgar o grupo e criar um ambiente gostoso naquelas tardes enquanto as pessoas estão passeando. Acabam parando por lá e assistem aos ensaios, têm um contato mais próximo com essa manifestação cultural…”
Adê Ribeiro
Já as oficinas são abertas a todo o público que queira participar e aprender a tocar os instrumentos de percussão, ocorrendo sempre aos sábados às 15h e às terças 19h na Casa da Paz. Por fim, a pedagoga também ressalta as principais informações que os interessados a participar dessas oficinas precisam saber: